sábado, 30 de janeiro de 2010

Falta de coragem

"I'm here! What are your other two wishes"
Era assim a frase (espero que o meu inglês não tenha nenhum erro) que me encantou numa t-shirt, numa loja do Rossio.
Adorei-a! Devia tê-la trazido, mas duvidei que tivesse coragem para a vestir.
Se fosse um íman de frigorífico tinha comprado...
Mas era o máximo e resolvi guardar aqui as suas palavras.

10 comentários:

Ninguém.pt disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
josé luís disse...

será outra daquelas coincidências?
acabei que (re)escrever a palavra t-shirt - embora a frase que está escrita na minha não tenha tanta piada... ;-)

Ninguém.pt disse...

Apenas uma questão de língua?

Antigamente dizia-se: «Os três principais prazeres do homem são um uísque antes e um cigarro depois.»

Escrivaninha disse...

Eu estava a pensar no génio da lâmpada, mas...se calhar já ninguém acredita nisso.
Devo informá-lo que o wiskey e, sobretudo o cigarro, são agora considerados politicamente incorretos, porque temos todos de ser saudáveis.
Quanto à língua...reafirmo que não comprei a t-shirt, só registei a frase.
E só volto a falar no assunto na presença do meu advogado!

Escrivaninha disse...

"incorrectos" tem um erro na minha msg anterior e não a adopção do novo e polémico acordo ortográfico.

Ninguém.pt disse...

Escrivaninhas recentes, que nunca viram outras formas de escrever este palrar, talvez achem o AO pouco próprio, mas vejamos um exemplo:

Affonso de Albuquerque

De pé, sobre os paízes conquistados
desce os olhos cansados
de ver o mundo e a injustiça e a sorte.
Não pensa em vida ou morte,
tam poderoso que não quere o quanto
póde, que o querer tanto
calcára mais do que o submisso mundo
sob o seu passo fundo.
Trez impérios do chão lhe a Sorte apanha.
Creou-os como quem desdenha.


Fernando Pessoa in Mensagem (1934)

Quantos erros uma professora rigorosa assinalaria neste texto de um dos nossos maiores? Eu contei oito...

Este rapazito, embora fosse uma enorme Pessoa, recusou sempre o Acordo Ortográfico de 1945 e continuou escrevendo "à antiga". Pois bem, mesmo contra ele (e grande que era!) o AO de 1945 fez-se e é agora defendido com unhas e dentes (com idênticos argumentos) pelos que se opõem ao novo, ao de 1990.

A roda da história é pior do que a mó, tudo tritura!

Ninguém.pt disse...

Ah, já esquecia: no caso de que falávamos, espero que não avancem mais na classificação do politicamente incorrecto...

Caso contrário, quem precisa de advogado sou eu!

Escrivaninha disse...

Mestre: eu não sou fã nem desfã do AO e já vi outras formas de escrever este nosso parlar, pois adoro estudar a imprensa da 1ª República e, nessa altura, escrevia-se de outra forma.
Como professora terei de aceitar e respeitar o acordo quando ele for implementado - nunca antes. Não me choca que ele exista - creio que de vez em quando tem de se adaptar/modernizar a grafia da Língua Portuguesa (presumo que de qualquer língua) - só me aborrece os motivos porque o AO é feito e não creio que tenhamos nunca a Língua Portuguesa unificada. Uma das coisas interessantes - acho que - é a sua diversidade: recorda-nos a diáspora e a versatilidade do nosso povo.
Particularmente no AO - e talvez por ser de História - violenta-me a queda do 'c' em facto, pois parecerá sempre que estamos a falar do espólio do Museu do Traje, onde estão guardados os fatos históricos.
A Língua Portuguesa continuará sempre a ser traiçoeira, como dizia o outro...:-)

Ninguém.pt disse...

De facto, em Portugal esta palavra não irá perder o seu riquíssimo "c"...

Há muita desinformação quanto ao AO, que não digo que seja perfeito – mas não é tão mau quanto os seus adversários dizem.

Quanto aos motivos, bem... Vamos fazer um "supônhamos": o Conselho de Segurança da ONU quer ter como língua de trabalho o português. Que versão vai escolher: a (oficial) de 30 milhões ou a de 180 milhões?

Esquecer o peso que o Brasil tem hoje, querer lutar com uma linguazita de 30 milhões (dos quais apenas metade a usará como primeira língua) contra uma de 180 é combate desigual.

Com o AO, como se ficou "no meio", com cedências daqui e dali, todas as versões são oficiais e podemos dizer que qualquer comunicado está no "nosso" português.

Para ver qual a forma de escrever após AO, e não temer pelos "cc" dos factos, há, por exemplo, esta muito útil bengala:

http://www.priberam.pt/dlpo/

No topo podemos activar a opção Acordo Ortográfico e depois escolher o Antes ou o Depois.

Ficaremos, assim, informados da modificação, ou não, daquela palavra – isto referente à versão lusitana da língua.

Quanto à diversidade, ela vai crescer exponencialmente do ponto de vista oficial, por incorporação legal de imensas palavras do português de outras pátrias. Palavras que raramente integravam os compêndios por não terem a sorte de cair no goto dos luso-vernaculistas...

Aliás, a maioria das diferenças existentes com o Brasil derivaram de uma postura sobranceira de pretensa "liderança" linguística dos nossos académicos e políticos – que avançaram sozinhos nas reformas, como se os outros fossem obrigados a seguir-nos.

Escrivaninha disse...

Obrigada, Mestre, pelos seus utilíssimos esclarecimentos, mas confesso que, para já, não me vou preocupar muito com a questão. Se me tivesse preocupado com isso desde que se começou a atear o lume - lembro-me particularmente de um Professor Malaca Casteleiro que falava muito sobre isto, ainda eu era universitária...- tinha perdido muito tempo e visto várias versões.
Estou como o Bocage, que, numa velha anedota, surgia enrolado numa peça de tecido, pois só valeria a pena talhar o fato, quando decidissem a última moda.
Quando chegar mesmo, cá estarei para me informar e cumprir o Acordo Ortográfico, honrando a riqueza e diversidade da nossa língua, que sempre me encanta, nas várias versões e com vários sotaques.