A Vida é Bela
"Cena 41
Cidade. Rua
Exterior/dia
Pai e filho avançam a pé. Guido empurra a bicicleta pelo guiador. São ultrapassados por uma pequena companhia de soldados alemães. Os dois param na pastelaria Ghezzi. Na montra os bolos são poucos, mas há um cartaz com a escrita «Proibida a entrada a judeus e cães».
(...)
Guido segue em frente enquanto a criança lê o cartaz. Depois, alcança o pai.
Giosué: Porque é que cães e judeus não podem entrar, pai?
Guido: Eh, não querem lá judeus e cães. Cada um faz aquilo que quer! Há uma loja além, uma loja de ferragens...aqueles não deixam entrar espanhóis e cavalos. E aquele ali, o farmacêutico, mesmo ontem estava eu com um amigo...um chinês, que tem um canguru: «Não! Aqui chineses e cangurus não podem entrar!»; antipatizam com eles.
Pai e filho afastam-se, de costas, ao longo da triste rua da cidade.
Giosué: Mas nós deixamos entrar toda a gente!
Guido: Não, a partir de amanhã, também nós vamos escrever. Com quem é que tu antipatizas?
Giosué: Com aranhas! E tu?
Guido: Eu com visigodos! Amanhã vamos escrever: proibida a entrada a aranhas e visigodos.
E apressa o passo.
Guido (quase para consigo): Chega! Estou pelos cabelos com os visigodos!
Dobram a esquina."
Begnini, R. & Cerami, V. (1999). A Vida é Bela. Terramar. pp. 105-106.
1 comentário:
É, sem dúvida, um dos filmes da minha vida.
Aterrador é verificar que quem procedia desta forma não tinha nem cauda, nem corninhos, nem era azul às bolinhas, nem tinha três olhos ou duas cabeças... Eram seres como nós — éramos nós mesmos!
Em cada um de nós parece coexistirem um deus e um demónio e depender do nosso bom-senso, da nossa humanidade, alimentar um ou outro, deixar que um ou outro se sobreponha...
Muitas vezes, para sossegarmos as nossas consciências, encolhemos os ombros e afirmamos que "isso jamais aconteceria comigo". Contudo, se não estivermos alerta...
Beijito, Miss.
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