segunda-feira, 11 de abril de 2011

Impossível de explicar!

A Vida é Bela

"Cena 41
Cidade. Rua
Exterior/dia

Pai e filho avançam a pé. Guido empurra a bicicleta pelo guiador. São ultrapassados por uma pequena companhia de soldados alemães. Os dois param na pastelaria Ghezzi. Na montra os bolos são poucos, mas há um cartaz com a escrita «Proibida a entrada a judeus e cães».
(...)
Guido segue em frente enquanto a criança lê o cartaz. Depois, alcança o pai.

Giosué: Porque é que cães e judeus não podem entrar, pai?
Guido: Eh, não querem lá judeus e cães. Cada um faz aquilo que quer! Há uma loja além, uma loja de ferragens...aqueles não deixam entrar espanhóis e cavalos. E aquele ali, o farmacêutico, mesmo ontem estava eu com um amigo...um chinês, que tem um canguru: «Não! Aqui chineses e cangurus não podem entrar!»; antipatizam com eles.

Pai e filho afastam-se, de costas, ao longo da triste rua da cidade.

Giosué: Mas nós deixamos entrar toda a gente!
Guido: Não, a partir de amanhã, também nós vamos escrever. Com quem é que tu antipatizas?
Giosué: Com aranhas! E tu?
Guido: Eu com visigodos! Amanhã vamos escrever: proibida a entrada a aranhas e visigodos.

E apressa o passo.

Guido (quase para consigo): Chega! Estou pelos cabelos com os visigodos!

Dobram a esquina."

Begnini, R. & Cerami, V. (1999). A Vida é Bela. Terramar. pp. 105-106.

1 comentário:

Ninguém.pt disse...

É, sem dúvida, um dos filmes da minha vida.

Aterrador é verificar que quem procedia desta forma não tinha nem cauda, nem corninhos, nem era azul às bolinhas, nem tinha três olhos ou duas cabeças... Eram seres como nós — éramos nós mesmos!

Em cada um de nós parece coexistirem um deus e um demónio e depender do nosso bom-senso, da nossa humanidade, alimentar um ou outro, deixar que um ou outro se sobreponha...

Muitas vezes, para sossegarmos as nossas consciências, encolhemos os ombros e afirmamos que "isso jamais aconteceria comigo". Contudo, se não estivermos alerta...

Beijito, Miss.