quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Historiografia Portuguesa de Luto

Ontem, aos 92 anos, morreu o historiador Vitorino Magalhães Godinho.
Para mim será sempre o homem dos «complexos historico-geográficos», da história estrutural, de toda uma compreensão da História enquanto disciplina que só me começou a ser desvendada no 12º ano, quando, de facto, defini a área científica e social em que queria trabalhar e estudar sempre.
Nunca ouvi falar pessoalmente o Professor Vitorino Magalhães Godinho, mas gostei e gosto muito de o ler e considero-o uma referência (incontornável, como fica bem agora dizer) na minha visão da História de Portugal e do papel de Portugal na História Mundial.
A sua figura como estudioso e académico é uma das referências «quase míticas» (de uma mitologia pessoal, muito bebida na Faculdade de Letras pós-25 de Abril) daqueles que realizaram os seus estudos em França (Ah! A Sorbonne!) e que revolucionaram a História a partir da Escola dos Annales.
A História, a Historiografia (e não só a portuguesa) estão de luto, porque perderam uma suas grandes (muito grande) figura.

Nota Póstuma (pelo país?): Numa das suas últimas entrevistas, em 2008, o Professor entristecia-se pelo rumo que o país estava a tomar e fala de vários boicotes que o seu trabalho sofreu:
«Como quer que seja, ninguém lhe tira da cabeça que a sua vida "é uma sucessão de fracassos". A seu ver, o caminho seguido pela Universidade Nova - da última vez em que os seus projectos foram, "como sempre, sabotados" - é apenas mais "um sinal da inércia de uma sociedade que adopta o telemóvel, mas não é capaz de se abrir a novas formas de cultura".

"Um sinal" que Magalhães Godinho entende, mas com o qual não se conforma. Afinal, aos 90 anos, "teima em ser cidadão". Contra o "desaparecimento da figura do intelectual". Contra a "falta que faz quem dê uns gritos de alarme, alertando para os recuos que a democracia está a ter". Contra a "inexistência de quem ouse dizer que 'o rei vai nu".»
Pode ler-se na íntegra aqui:
http://aeiou.expresso.pt/o-homem-que-teima-em-ser-cidadao=f314283

Obrigada, Professor. A História (pelo menos a História) não deixará de lhe fazer justiça!

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