sábado, 23 de abril de 2011

"ELA:

Quem sou eu então se não me vês?
Que solidões dos anos que passaram
e dos futuros densos nos separam
neste escuro impensado?
Quem és tu afinal e que não seja
esta ofuscante imensidão
que nos amarra?"


extraído de Um Teatro às Escuras, de Pedro Tamen, Publicações Dom Quixote, 2011, p. 11

1 comentário:

Ninguém.pt disse...


Poema destinado a haver domingo


Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.

Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.

Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.

Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre

Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o amor por fim tenha recreio.


Natália Correia