domingo, 23 de janeiro de 2011

Vamos indo...

Este fim de semana tinha de ser decisivo. Por isso eram quase 5 h da manhã quando gravei as últimas palavras do texto que planeava rever hoje.
Deitei-me algo intranquila por causa do drama de 8 patas que vivemos presentemente por aqui: a gata, velhota, não aceitou o gatinho novo e temos vivido em estado de sítio. Agora estão em locais separados e ela, como é a que se mexe menos, está embrulhada num cobertor na lavandaria. Tive medo que ela tivesse frio, mas creio que ela prefere isso a ter de conviver com o gato, que lhe causa um pânico a ponto de ela não se controlar. Já está decidido que o gato volta para casa da tia, onde conviverá com mais 3 gatos e 2 cães, em que ele se diverte como se estivesse num verdadeiro luna park.
Custa-me deixá-lo ir, mas não há outra saída. E sei que vai ser muito bem tratado.
Quando regressei a casa, após o cumprimento do dever cívico, estava a começar o filme Marley e eu. Vi-o todo, pois precisava mesmo de repousar o texto depois da revisão e agora estou para aqui de lágrimas nos olhos, a observar o enroscado gatinho de que tenho de abdicar.
Quando liguei o computador não era para escrever nada disto. Era até para me congratular por ter arrumado hoje um imenso conjunto de malas, pastas, casacos e chapéus, que se acumulavam por suportes e cadeiras cá em casa.
Mas o que tem piada nesta situação é que tudo isto se deve às eleições. A limpeza foi o resultado de uma busca - infrutífera - pelo meu BI para poder votar. Afinal lá consegui votar com o cartão de eleitor e a carta de condução e tenho a casa muito mais arrumada.
O gatito não gostou da limpeza, pois adorava dormir sobre a pilha das minhas malas...
E o que eu encontrei em toda esta busca! Rebuçados lambuzados, lenços de papel ranhosos, vários bilhetes de metro, dúzias de canetas, vários pensos higiénicos (penso que, juntando todos, dá mais que a quantidade de uma embalagem normal), um baton que comprei há imenso tempo, muitos rascunhos de coisas, vários conjuntos de cartões de visita...
Fiquei a pensar no resultado desta exploração arqueológica: os pedaços de vida que deixamos por aí! Tudo bem analisado pode dar pistas sobre os nossos hábitos: a primeira conclusão seria, com certeza, que é um hábito esporádico arrumar as malas e os abafos cá por casa.
A televisão anuncia os esperados resultados das eleições. Agora deu-lhes para celebrar isto como a eleição do Presidente do Centenário da República...O estúdio está ornado com fotografis de bigodes farfalhudos da 1ª República. E depois estão todos de parabéns! Esta conversa morna - para adormecer perús - que orna todos os actos eleitorais é de uma capacidade aborrecente sem igual!
Penso no que vou dizer amanhã quando as crianças me perguntarem se fiquei contente com os resultados das eleições. Olho para o canto superior direito da minha sala de estar - não sei se já repararam mas a maior parte das soluções difíceis encontram-se nos cantos superiores direitos das divisões que habitamos - e ensaio a frase "Fico sempre contente quando a democracia se desenrola de acordo com os seus pressupostos."
Tretas! Claro que não estou nada contente. Mas o que mais me assusta é também não estar descontente. Quero lá saber! Nenhum merece a minha confiança. Lá coloquei uma cruz, dei o meu voto a alguém em quem não consigo confiar. Esta situação do menos mau irrita-me, desgosta-me, faz-me ansiar por uma manobra arrojada de alguém...que arrancasse gritos de alegria e de indignação, que nos fizesse estremecer...discutir acaloradamente...dividirmo-nos por opiniões...e não continuarmos aos encontrões...à crise, que já tratamos por tu, com uma confiança que roça uma relação de amor-ódio...ou simplesmente de aborrecimento. Que maçada! Lá vem a crise...outra vez?...É outra ou uma continuação da mesma?
Quanto estarão a ganhar aqueles opiniosos todos que estão a inventar comboios de frases nas várias estações de televisão?
A única coisa boa nisto tudo é que, não havendo segunda volta, devemos poupar algum dinheiro...ou talvez não?...
Na segunda volta vai ele, e nós cá continuamos neste baile mandado, neste corridinho algarvio que já perdeu o viço e o fogo de quando dançar a pares era excitante. Estamos há tanto tempo no rancho, que já bailamos sem ver qual o par que abraçamos.

Amanhã tenho de ser Presidente de uma Mesa de Assembleis de Jovens Deputados. E a frescura deles ainda me encanta. Alguns andam aborrecidos or diferenças de opinião sobre as listas da escola. E o que eu lhes digo - que eles pensam que é brincadeira - é "congratulem-se por terem opiniões!"
É mais verdade do que eles conseguirão compreender antes dos 40 anos.
Ando encantada com o empenho deles, com o idealismo adolescente que irrita muitos, mas a mim me devolve a esperança.

3 comentários:

josé luís disse...

a esperança também está sempre no canto superior direito, não é?

ah, e olhe, se o desespero triunfar, pense em mudar de vida, emigrar, sei lá, já pensou em casar com um faroleiro?
http://www.youtube.com/watch?v=wNTf8iublLc
(olhe que um farol pode ser sempre um cabo da boa esperança...)

boa semana, escrevinhe!

Ninguém.pt disse...


O diamante


O grilo procura

no escuro

o mais puro diamante perdido.

O grilo

com as suas frágeis britadeiras de vidro

perfura
as implacáveis solidões noturnas.

E se o que tanto buscas só existe

em tua límpida loucura
— que importa? —
isso

exatamente isso

é o teu diamante mais puro!


Mário Quintana

Escrivaninha disse...

Muito obrigada.:-)
"Casar com um faroleiro" não me parece, à partida, uma ideia brilhante...mas continuarei a procurar o "meu diamante mais puro" que - quem sabe? - pode brilhar tanto como um farol.
Beijinhos!