quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sede de Versos

"De bruços me debruço mais ainda
até sentir os olhos tumefactos
para saber até que ponto é linda
a intrigante cor desses sapatos


que às tuas pernas dão um brilho tal
e uma leveza tal ao teu andar,
que eu penso (embora aches anormal)
que nunca te devias descalçar.


Também porquê, se já não há verdura
nem tu és Leonor para correr
descalça, no poema, à aventura?

O mais difícil, hoje, é antever
quem é que vai à fonte em literatura
e que água dá aos versos a beber."

Joaquim Pessoa
colhido em poedia.blogspot.com

2 comentários:

josé luís disse...

:)

(está bem, confesso: tenho inveja deste soneto)

Ninguém.pt disse...


Do poema


O problema não é
meter o mundo no poema; alimentá-lo
de luz, planetas, vegetação. Nem
tão-pouco
enriquecê-lo, ornamentá-lo
com palavras delicadas, abertas
ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
aos corpos nus dos amantes —

o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja
mais só
do que as palavras
acompanhadas
no poema.


Casimiro de Brito

Além de
«quem é que vai à fonte em literatura
e que água dá aos versos a beber»


é também importante saber o que e a quem alimentam os versos...

Cada vez mais é preciso saber a que senhor servem eles.

Beijito, Miss.