sábado, 26 de fevereiro de 2011

Em poucos dias o silêncio me custou tanto como hoje...

"Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!"

David Mourão-Ferreira

2 comentários:

Ninguém.pt disse...

Parabéns! A ternura é um bem muito precioso: embora esteja à mão de todos nós dá-la, só a recebemos de alguns...


Poema da ternura

Se Tu fosses humano,
as minhas mãos
viveriam tecendo
carinhos e sedas,
para te darem trajes prodigiosos
de lenda...
Se Tu fosses humano,
os meus olhos andariam acesos,
noite e dia,
e tão postos em Ti
que brilharias todo,
como quem se houvera coroado
com o sol...
Se Tu fosses humano,
a minha boca seria
fruto para a tua sede,
música de amor para o teu sono,
festa da Consolação
para a tua tristeza...
Se Tu fosses humano,
eu seria o teu brinquedo
de criança,
as tuas armas
de guerreiro,
a flauta em que a tua velhice
louvasse o próximo cerimonial
da Morte...
Se Tu fosses humano,
ó Eleito,
eu seria tudo, na tua vida...
Mas eu não sou nada...
Eu não sou nada mais
que esta ansiedade impossível de ser...
..............
Oh! pensar que, se Tu fosses humano,
as minhas mãos
viveriam tecendo
carinhos e sedas,
para te darem trajes de lenda,
prodigiosos...


Cecília Meireles

Escrivaninha disse...

Obrigada.
Estou tão crescida! Já vou encontrando aqui e ali, sozinha, poemas de que gosto muito. Este, hoje, parecia escrito para mim...

Beijito