Tenho a televisão sintonizada na RTP2 e estou, com uma atenção média, a seguir o Câmara Clara, que hoje conta com a presença de Joaquim Furtado e Adriano Moreira para falar sobre a Guerra Colonial.
Quando 'zapei' para aqui (e foi esse o motivo porque aqui fiquei) falava-se do título do trabalho de Joaquim Furtado - A Guerra: Colonial; do Ultramar; de Libertação.
Justificou o jornalista que as três designações foram usadas para expressar posições diferentes:
- colonial, pelos que se opunham, para marcar a situação obsoleta e condenada pela ONU de Portugal manter um Império Colonial
- do Ultramar, pelos que oficialmente tratavam do assunto, enfatizando a designação de 'Províncias Ultramarinas' para os territórios de além-mar. Esta designação era uma resposta estratégica às objecções da ONU.
- de libertação pelos que lutavam contra o domínio português.
Adriano Moreira comentou que a semântica não era uma questão de somenos importância e dissertou sobre os aspectos culturais, a importância dos conceitos absorvidos em épocas de formação e, claro, as questões geracionais, ligadas a diversos conceitos.
Estas questões, obviamente, fascinam-me; eu, que me arvoro em guardadora de palavras, porque me intrigam e desafiam pelos conceitos que escondem e de que, muitas vezes as pessoas não têm consciência.
Recentemente tive oportunidade de pedir explicações a um entendido sobre a questão da designação do Estado Novo como 2ª República. O esclarecimento - verdadeiramente esclarecedor, passo a redundância - lá foi ter aos conceitos, às questões ideológicas e à identificação dos utilizadores das expressões com determinadas orientações político-ideológicas.
Desde então tenho reparado com muito mais cuidado que a questão é cuidadosamente evitada.
Lembrei-me que, esta semana, numa aula de substituição de 8º ano, coloquei aos alunos a questão da designação de 'Descobrimentos' ou 'Expansão' para caracterizar a diáspora ibérica que marca a modernidade da Europa. Lá estavam o pendor europeísta e 'colonizador' da expressão Descobrimentos, a que se opõe uma designação - para mim mais justa - de Expansão, mais ampla e que não choca com o argumento que ouvi uma vez a uma brasileira: "Que Descobrimento, que quê? Nós lá carecia ser descoberto?"
Os alunos reagiram bem e foi - certamente - mais uma conversa enriquecedora. Em torno das palavras...que nunca, nunca são inocentes. Por vezes são mais culpadas que quem as profere...
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