Cheguei a casa aborrecida e preocupada com os resultados do teste de 7º ano; aquele, que eu gostei tanto de fazer...Estava tão aborrecida por mais uma vez os alunos considerarem que uma palavra pode ser uma resposta num teste de História e por não pensarem quando estão a resolver coisas simples como um crucigrama ou uma sopa de letras: desde que a palavra caiba, não interessa nada que não se relacione com a matérias estudada! Quase desesperada, por ver que os meus esforços continuados não têm eco e que, mesmo o teste que eu considerava fácil - estamos a falar de "sopas de letras" e "crucigramas", coisas que eu considerava 'giras' para treino mental, mas que só desde o ano passado é que coloco nos testes... - sentei-me aqui a ponderar a hipótese de anular o teste e mandar fazer outro para eles perceberem, definitivamente, que a disciplina de História exige trabalho.
Mas estas decisões são complicadas. Sobretudo porque, cada vez mais, eu tenho a noção de que os alunos não conseguem compreender o que eu digo, que é necessário trabalhar...para eles, olhar para uma folha, ler a legenda de uma imagem ou escrever uma palavra é um esforço notável! Vejo nas caras deles a frustração, de não terem conseguido agradar, de eu considerar que eles não se esforçaram...Isto preocupa-me. Pois se eles, genuinamente, não percebem o que devem fazer, como poderão corresponder às expectativas? Onde é que isto começou a ficar assim? Desde quando é que os alunos não percebem que na questão "Relaciona as actividades económicas desenvolvidas na Grécia com as características geográficas do território" é necessário relacionar duas coisas e não responder com a 'lista' das características geográficas ou das actividades económicas? Como proceder? Se a maioria dos alunos não compreende isto o erro deve vir de trás e significar algo de muito mais grave.
Não sou eu que tenho de baixar o nível de exigência até a palavra deixar de fazer sentido. Não posso! É a negação da minha função e das funções da Escola! Onde é que isto começou? Como se poderá inverter? O que se passa?...
Para melhor lidar com estas e outras questões, antes de me lançar nas grelhas que me darão o resultado final daquilo que a minha caneta vermelha já evidenciou que está longe de corresponder às expectativas, resolvi fazer uma ronda por alguns blogues.Entre os habituais está o De Rerum Natura, onde aprendo muito sobre ciência, filosofia, e encontro textos interessantes sobre educação. O último post de Carlos Fiolhais atingiu-me em cheio. Se por um lado me fez sentir acompanhada nas minhas preocupações, por outro lado matou as minhas esperanças de que isto possa ter uma solução. Recomendo-vos que leiam o post mesmo, mas, só para contextualizar, o autor nota que no teste intermédio de Física de 11º ano estão 4 linhas de um texto seu, de um livro intitulado Física Divertida (que, logo pelo título se vê ser coisa difícil de destrinçar e, por isso, os autores do teste colocaram o texto adaptado), em relação ao qual se exige (!) que os alunos façam uma transcrição de uma parte. Alunos de 11º ano! Grau de exigência do Ministério de Educação!
Já está decidido: eu não vou fazer mais um teste, que me dá trabalho a mim, aumenta a frustração dos alunos e minha e não vai ter qualquer resultado prático, pois o facilitismo está instalado. Não sei onde começou, mas já percebi que não vai acabar tão cedo. E poderia até parecer algo de politicamente incorrecto dizer aos alunos que têm de trabalhar no início do 3º ciclo. Sabemos lá os efeitos nefastos que isso poderá vir a ter no desenvolvimento das suas personalidadezinhas!
Está feito. E nos próximos crucigramas talvez seja melhor dar a primeira e a última letra de cada palavra...para além da do meio, claro. E aceitar qualquer palavra que demonstre que o aluno contou os quadradinhos. Sempre é um esforço, caramba; ter de relacionar a palavra com o assunto em estudo poderá ser efectivamente esgotante.
2 comentários:
Diálogo
Levarás
pela mão
o menino
até ao rio. Dir-lhe-ás
que a água é cega
e surda. Muda,
não. Que o digam
os peixes, que em silêncio
com ela sustentam
seu diálogo
líquido, de líquidas
sílabas
de submersas
vogais.
Albano Martins
Só vale apontarmos o dedo se estivermos frente a um espelho... Não há inocentes neste processo — ou antes, apenas as crianças estão inocentes e apenas até à idade em que têm também obrigação de saber somar dois com dois...
Num processo em que todos são culpados, encontrar "o culpado" é um processo de auto-desculpabilização.
(Há nas apreciações dos professores a esta triste realidade uma entidade abstracta chamada Ministério e que, pelas conclusões são tiradas, será constituída por ETs e não por professores... Ou quando um professor salta para o Ministério perde a qualidade de professor?)
Já sei, Miss, já pus o capacete... Bata à vontade!
Beijito.
Mestre, terá razão, com certeza...Até os meus alunos já sabem que "a culpa é do sistema" e nenhum de nós sabe bem o que é o sistema, ou até que ponto somos parte dele.
Claro que todos nós teremos culpa, pelo menos de não assumirmos alguma culpa que tenhamos, mas, muito francamente, neste momento, não sei como reagir a isto...como tentar inverter isto....
E tenho de me debater com o facto de estar a paticipar nisto...mesmo que involuntarimente, com todas as reservas...mas tenho mais dúvidas que certezas...Desistir? Continuar?...Resistir, à minha maneira?...o que é nitidamente insuficiente...
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