terça-feira, 24 de março de 2020

Quarentena

Deveria ser fácil trabalhar em casa.
Deveria ser ainda mais fácil para uma pessoa que tinha decidido este ano afastar-se do trabalho...
Mas não das ruas, dos jardins, do mar, das esplanadas, das pessoas.
Desde que tudo isto começou (ou desde que eu me apercebi de que tudo isto começou) tem sido um desassossego: os amigos querem fazer-se presentes; estabeleceram-se vários grupos de partilha; há sempre algo para ler (para rir ou para chorar, mas, essencialmente para dizer que não estamos isolados, embora recatados em casa); sujo muito mais coisas e tenho de ser eu a limpar; distraio-me com uma mosca, porque agora - oficialmente - não tenho nada para fazer.
Tem sido uma perfeita loucura e inversão do tempo de recolhimento que devíamos estar a viver.
Hoje parece ter sido um pouco melhor: Vitamina D pela manhã, na varanda ensolarada, enquanto comia um excelente bolo de maçã, fruto da solidariedade de uma vizinha; muita escrita, reflexiva mesmo, leituras, telefonemas e, aproveitando a hora morninha da sesta - que eu não faço, mas também não faço nada naquela hora - fiz-me entregadora de solidariedade e vá de levar o meu microondas de sobra a uma amiga que ficou sem o seu, transportar laranjas da casa dessa para a casa de outra e "namorar de gargarejo" com uns amigos à porta de quem passava nestas lides. Todas as precauções foram tomadas: as coisas são deixadas à porta ou no interior de carros para que nada nos aproxime fisicamente e o isolamento social continue. Hoje tornei-me útil, com um pouco mais de fé ou uma firmeza maior na minha fé: em Deus, no Universo, na Humanidade e em mim.
Vamos todos ficar bem!

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