quinta-feira, 19 de março de 2020

Demanda

Demanda vai muito bem com esta busca de autoconhecimento que eu planeei tão bem para este ano, com o seu ponto alto de estadia na China e que desmoronou toda com a actual situação internacional.

Demanda: busca, pesquisa, acção, pergunta, processo judicial, debate, empresa...

Tudo isto são significados retirados do Priberam.

Vem-me ao espírito a expressão francesa "Quête", mas não consigo, nestas geringonças electrónicas, encontrar uma tradução que me satisfaça. Mas é isso. Une quête, uma busca, uma demanda...todo um processo com laivos épicos medievais, que nada há de mais difícil que questionar-mo-nos a nós próprios, que procurar os nossos propósitos, que pesquisar dentro de nós, qual descida a poço iniciático ou mergulho no desconhecido.

Sinto que tenho de tirar partido de tudo o que está a acontecer. Sinto que o facto de não acontecer pode ser muito mais esclarecedor, didáctico, iluminador, do que se tudo se tivesse passado como eu planeei.

Mas como? Qual é o caminho? Que sinais devo seguir? ou antes, que sinais devo ver? Como divisar o que realmente importa?

Por vezes é um desespero: porque eu sei, eu sinto, eu sei mesmo sem saber que é muito, muito importante, mas o quê?

De repente parece que os poetas já terão sentido tudo isto, porque o que sinto é mais poesia que filosofia...mas, como ? se eu nem sei o que sinto, como sinto, porque sinto...

Sinto-me um cão a perseguir a cauda, com o desespero de que, estando ela mesmo ali, lhe foge constantemente; de que, fazendo ela parte dele, se lhe apresenta como exterior e troça dele, como se aquela exigência - apanhar a sua própria cauda - se lhe tornasse inacessível , o tornasse vulnerável perante uma parte de si mesmo...

Como prossigo a minha demanda, se ainda nem defini bem em que consiste a minha demanda?

O monge disse a Liz: Lembra-te do que diz a nossa guru: sê cientista da tua própria experiência espiritual. Não estás aqui como turista ou jornalista, estás aqui em demanda. Portanto, explora a situação. Gilbert, Elizabeth, Comer, Orar, Amar, p. 188

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