domingo, 4 de março de 2012

Trocando os tempos

Gosto muito de brincar com os tempos e os ritmos. Gosto de fazer as coisas fora de tempo ou comportar-me ao contrário do tempo.
Por exemplo, gosto de estar de férias quando os outros estão a trabalhar...mas também gosto de trabalhar quando os outros estão de férias; gosto de trabalhar aos fins de semana e tirar uma tarde de semana para ver o mar, ir ao cabeleireiro ou ao supermercado; não fazer compras ao sábado, não ir à missa ao domingo; enviar as fotos das férias de Verão durante o Inverno aos amigos e divulgar fotos de gorro, luvas e lareira em pleno Verão, etc.
Este fim de semana trocaram-me as voltas aos planos que tinha feito. A casa familiar onde planeara passar o fim de semana estava infestada de vírus da gripe e a prudência e os avisos dos engripados, devolveram-me ao sossego e segurança do lar.
Ontem acabou por ser dia de iniciativas culturais e de amigos, intervalados com algumas arrumações. Hoje a continuidade das arrumações e o tempo cinzento exigiam medidas de sofá. Uma consulta rápida às gravações feitas na 'box' da Cabo mostraram-me que entre vários filmes e séries, estava o filme 2012, que dera na alturas do Natal, época em que não me apetecera enfrentar as profecias fatalistas dos Maias reintrepretadas pelos cidadãos americanos atuais.
Foi hoje, dois meses que o ano já tem. Afinal a profecia aponta para 21 de Dezembro de 2012, mas, como não podia deixar de ser, os americanos salvam o mundo e tudo recomeça depois de uma nova versão do Dilúvio, com arcas e escolhas de espécies para o recomeço. Grande Nação aquela! Quando vejo filmes destes sempre me recordo do filme de animação de Spielberg, "Fievel, um conto americano", em que o mito é tão grande que até os ratos dos navios dos emigrantes (também eles emigrantes, claro) estão convencidos da perfeição do novo mundo, onde...não há gatos! Grande indústria cinematográfica e grande ego coletico, de facto.
Tem a sua graça, nos intervalos do filme, ver os anúncios de Natal.
E agora à noite, já que era para continuar no sossego anticontexto atual nacional, descobri também gravado o Concerto de Ano Novo, da Áustria, claro, comentado pelo Eládio Clímaco, claro.
E que graça terá ele, daqui a pouco, terminar o programa desejando-me Feliz Ano Novo. No dia 4 de Março de 2012!
Fintas que se podem fazer agora ao tempo.
Mas amanhã não há safa: é 2ª feira, de Março, a começar a contagem decrescente para o final do 2º período, com os seus correspondentes testes, classificações e burocracias inerentes ao processo.
E saio eu diretamente do Danúbio Azul...Até me pode fazer mal!   

4 comentários:

Ninguém.pt disse...


Sim, sou eu, eu mesmo


Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobresselente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconsequente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro eléctrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.
Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos,
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio!...


Álvaro de Campos

Beijito Miss Tempo-sem-Tempo-Mas-Ainda-Muito-a-Tempo...

Escrivaninha disse...

Oh...tão lindo...
Hoje não tenho tempo para 'postar' nada (terminei agora de fazer os testes para 6 das minhas 7 turmas), mas não podia passar em branco por um texto poético que me soube tão bem.
Vou deitar-me com "uma impressão de pão com manteiga e brinquedos".
Obrigada.
Beijito e Bons sonhos
Escriva

Ninguém.pt disse...

Hoje, Dia Internacional da Mulher, lanço um repto: que todas icem bem alto a bandeira da plena igualdade, para que se acabe com o dia de…


PROFISSÃO: MULHER

Do lar?!
Só se for dinheiro
Recheando a minha carteira!
Eu sou mulher!
Mulher por inteiro.
Mulher inteira.

Prefiro ser
Louca,
Des-va-i-ra-da
A ser
Isaura,
Mulher escravizada!


Ana C. Pozza

Beijito, Mulher!

Escrivaninha disse...

Muito obrigada.

Eu nunca senti discriminação, mas tenho a consciência que para eu viver assim, outras e outros gastaram muito sangue, suor e lágrimas.

Beijito, Mestre.