"Ele esperava-a à porta do emprego.
Entrou no carro e subiu-lhe logo pelas narinas o perfume forte e fresco que ele colocara certamente há pouco tempo. Olhou-o um bocado irritada. Estava cansada e apetecia-lhe embirrar com alguém...(Não teve a consciência disso, mas era a verdade).
Ele inclinou-se para o seu lado. Beijou-a ternurentamente e disse: Feliz Dia da Mulher, meu amor!
- Oh, pá! Estou farta disso! Hoje lá na secretaria vinham todos com falas mansas e alguns até com flores «Feliz Dia da Mulher! Feliz Dia da Mulher!» Que parvoíce! A eles não podia dizer nada. E cara alegre que é serviço...Agora a ti. Bolas! Francamente! Eu não quero um dia da mulher! - rematou olhando-o de forma desafiante.
- E parabéns para ti, que tens direito de dizer o que queres e o que não queres. E de ser ouvida. E de ser bruta e malcriada também. Mas antes de ti houve muitas que por menos do que isso foram espancadas ou mortas. Não achas que deves festejar o direito de ser extremamente indelicada comigo e não sofreres as consequências? - ele despejou tudo isto com um ar limpo e fleumático.
Ele teve a sensação de que ele ensaiara o discurso. Talvez ela fosse mesmo bruta e indelicada. Agora sentia-se envergonhada. Mas não ia pedir desculpas...Não! Ela não!
Ele olhava-a insistentemente e o seu olhar começava a doer. Ela sabia que ele adivinhava a sua luta interna. Não sabia bem como sair daquela situação.
Por fim, com um suspiro entre a irritação e o alívio, atirou: Eu pago o jantar!
E apressou-se a dizer - Sim, sim, e que sorte a minha de ter ordenado para pagar o jantar, porque muitas houve que, mesmo tendo ordenado, não dispunham dele. Deixo-te fazer um brinde à memória de todas elas, mas não me vais dar mais uma aula de História.
Ele sorriu, pôs o carro a trabalhar e mentalmente foi antecipando a forma como comemoraria pela noite fora aquele amor tão difícil."
2 comentários:
parece que hoje é o dia das miúdas. e amanhã também. e depois.
[ parabéns :) ]
Obrigada. :-)
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