quarta-feira, 21 de março de 2012

Arma Secreta

"Tenho uma arma secreta
ao serviço das nações.
Não tem carga nem espoleta
mas dispara em linha recta
mais longe que os foguetões.


Não é Júpiter, nem Thor,
nem Snark ou outros que tais.
É coisa muito melhor
que todo o vasto teor
dos Cabos Canaverais.


A potência destinada
às rotações da turbina
não vem da nafta queimada,
nem é de água oxigenada
nem de ergóis de furalina.


Erecta, na noite erguida,
em alerta permanente,
espera o sinal da partida.
Podia chamar-se VIDA.
Chama-se AMOR, simplesmente."

António Gedeão

O poema que eu li hoje aos meus meninos (e fui aplaudida).
Dia Mundial da Poesia

3 comentários:

Ninguém.pt disse...


A POESIA NÃO MORREU


A minha impaciência não cabe no poema
ou na pedra afiada pelo silêncio
que me fere os pulsos.
Gravei a sangue o furor dos dias
e deixei rasgar em minha boca
os frutos da sede e do assombro.
Não me venham dizer
que precisamos de profetas
ou de heróis ou de sábios
para o mundo ser salvo.
Nós acreditamos que o brilho das manhãs
se arredonda nas arcadas do tempo
assediando o sonho fraterno dos poetas.
A poesia não morreu.
De memória em memória
ela atravessa as palavras
com a farpa da revolta.
É preciso gritar que a poesia não morreu?


Graça Pires

E uma pena não haver mais professores que leiam poesia aos seus alunos. Tenho a certeza de que eles iriam gostar se vissem nos olhos do leitor a paixão que a poesia pode despertar.

Beijito, Miss.

Escrivaninha disse...

Não morreu, não senhor.

Eu tive professores que me leram poesia. Não sei se foram muitos...não é o número que importa.

Ontem contei aos meus alunos que, quando eu andava no 8º ano, um professor (e não me consigo lembrar quem...) projetou - num slide! - Lágrima de Preta, de António Gedeão e que era um poema em que se via muito bem que ele era um cientista.

Hoje, uma menina trazia o poema impresso numa folha de papel para me mostrar.

Hoje não tenho energia para mais, mas queria vir aqui contar-lhe isto, Mestre.

Boa noite e Beijito

Ninguém.pt disse...

Claro que a poesia só morrerá quando morrer o último humano, mas que anda de costas voltadas ao ensino, lá isso...
E parece que há poetas temerosos. Aqui deixo outro:

A POESIA VAI ACABAR

A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar?


Manuel António Pina


Gedeão é um mestre e tem alguns dos melhores e mais humanos poemas do século XX português (e que século de luxo foi ele, em termos de poesia!). "Lágrima de Preta" é, quanto a mim, a mais linda demonstração de que as diferenças entre raças só existem na mentalidade e na cultura.

Que a "farpa da revolta" nos fira a todos.

Beijito, Miss.