O meu pai viveu sempre em ditadura. Nasceu em 1932 e morreu em 1972.
Claro que ele devia ter vivido mais, mas a ditadura deveria ter durado menos.
Eu gostaria de viver sempre em liberdade, em democracia, em consequência do 25 de Abril, sempre!
Eu vivi o 25 de Abril! Aí está uma coisa que conto com orgulho, embora eu não tenha feito nada para isso; e não tenha percebido, na altura, a dimensão que aquilo tinha. Não podia perceber, não tinha idade para perceber.
Mas guardo nos meus olhos de criança imagens fantásticas, emocionantes, mesmo que não percebidas totalmente na altura: Guardo as imagens da alegria das pessoas; guardo a vivência do conceito de fraternidade – as pessoas sentiam que pertenciam umas às outras, que comungavam de algo especial; guardo as imagens de milhares de cravos vermelhos e de bandeiras nacionais e de orgulho nacional; guardo o som da palavra liberdade dita «à boca cheia», com vida, com orgulho; guardo as imagens da saída dos presos políticos de Caxias; guardo as imagens de mulheres idosas (sim, sobretudo das mulheres), vestidas como se fossem para a mais selecta cerimónia, para votar, para participar na democracia; guardo as imagens das imensas filas às portas das mesas de voto nas primeiras eleições; guardo as lágrimas de minha mãe, por o meu pai não ter podido participar em nada do que estava a acontecer…
Em memória dessas mulheres idosas, que certamente hoje já morreram e nunca souberam a influência que tiveram sobre mim, em memória do meu pai, que nunca conheceu a liberdade, em memória de todos os que resistiram à ditadura (e também daqueles que a ela sucumbiram), é preciso não esquecer o que foi Abril, o que significam as palavras Revolução, Liberdade, Fraternidade, Democracia, Luta, Resistência, Participação, Responsabilidade, País, Povo…É preciso recordar as estrofes da Revolução, é preciso recordar tudo o que foi preciso sofrer para que hoje possamos escrever, ler e dizer, o que pensamos, sem medo.
Mas é preciso não esquecer! Porque o esquecimento e a desistência são as mais perigosas portas abertas à prepotência.
É preciso não esquecer, sobretudo agora, em tempo de eleições, em que as imagens das imensas filas de eleitores foram substituídas pelos números da abstenção.
Para que possamos dizer «25 de Abril, sempre!», para que o 25 de Abril não fique, um dia, apenas guardado nos meus olhos de criança.
Claro que ele devia ter vivido mais, mas a ditadura deveria ter durado menos.
Eu gostaria de viver sempre em liberdade, em democracia, em consequência do 25 de Abril, sempre!
Eu vivi o 25 de Abril! Aí está uma coisa que conto com orgulho, embora eu não tenha feito nada para isso; e não tenha percebido, na altura, a dimensão que aquilo tinha. Não podia perceber, não tinha idade para perceber.
Mas guardo nos meus olhos de criança imagens fantásticas, emocionantes, mesmo que não percebidas totalmente na altura: Guardo as imagens da alegria das pessoas; guardo a vivência do conceito de fraternidade – as pessoas sentiam que pertenciam umas às outras, que comungavam de algo especial; guardo as imagens de milhares de cravos vermelhos e de bandeiras nacionais e de orgulho nacional; guardo o som da palavra liberdade dita «à boca cheia», com vida, com orgulho; guardo as imagens da saída dos presos políticos de Caxias; guardo as imagens de mulheres idosas (sim, sobretudo das mulheres), vestidas como se fossem para a mais selecta cerimónia, para votar, para participar na democracia; guardo as imagens das imensas filas às portas das mesas de voto nas primeiras eleições; guardo as lágrimas de minha mãe, por o meu pai não ter podido participar em nada do que estava a acontecer…
Em memória dessas mulheres idosas, que certamente hoje já morreram e nunca souberam a influência que tiveram sobre mim, em memória do meu pai, que nunca conheceu a liberdade, em memória de todos os que resistiram à ditadura (e também daqueles que a ela sucumbiram), é preciso não esquecer o que foi Abril, o que significam as palavras Revolução, Liberdade, Fraternidade, Democracia, Luta, Resistência, Participação, Responsabilidade, País, Povo…É preciso recordar as estrofes da Revolução, é preciso recordar tudo o que foi preciso sofrer para que hoje possamos escrever, ler e dizer, o que pensamos, sem medo.
Mas é preciso não esquecer! Porque o esquecimento e a desistência são as mais perigosas portas abertas à prepotência.
É preciso não esquecer, sobretudo agora, em tempo de eleições, em que as imagens das imensas filas de eleitores foram substituídas pelos números da abstenção.
Para que possamos dizer «25 de Abril, sempre!», para que o 25 de Abril não fique, um dia, apenas guardado nos meus olhos de criança.
2 comentários:
O que me marcou mais foi mesmo a imensa generosidade que brotou de todas as almas, o imenso orgulho de ser cidadão livre e desejar essa liberdade para todos, as lágrimas de alegria...
É tão enternecedor ver aquele "brilhozinho nos olhos" provocado pelos sentimentos mais puros e generosos!
Depois (sim, houve um depois que deu outro fim à história...), depois vieram as etiquetas: amarelos, uns; vermelhos, outros; azuis, verdes...
Mas aqueles 15 dias de céu, só de os recordar fico emocionado!
"Quinze dias de céu". Gostei, muito.
Obrigada Mendes!
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