sexta-feira, 24 de maio de 2013

Voz na Pedra

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

António Ramos Rosa

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


A PALAVRA


Já não quero dicionários
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.

Que resumiria o mundo
e o substituiria.
Mais sol do que o sol,
dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,
mudos,
saboreando-a.


Carlos Drummond de Andrade


Mudos... eu teria uma certa dificuldade em viver, acho que me aconteceria como aos balões que vão enchendo até que rebentam.

Beijito, Miss.
(Estou aqui todo roído por não ir à manif, mas na posso... Enfim, estou lá em espírito.)

Escrivaninha disse...

Ah, eu muda também não. Estive afónica por uns tempos e estava tão infeliz e irritada...

Beijito, Mestre.