terça-feira, 14 de maio de 2013

Perda

A partida de alguém coloca-nos sempre a difícil tarefa de saber o que dizer.
Os clássicos "sentimentos" (ou pior ainda, pêsames) soam a frase feita, a despachar a coisa sem nada de pessoal...mas...que dizer: foi a vontade de Deus? temos de ter coragem? não podemos fazer nada? temos de nos conformar?...
Até para guardadores de palavras estas não fluem numa ocasião destas.
Fiquei-me pelas clássicas, formais, de circunstância, enviadas num frio sms que não traduz que estou aqui a recordar o casamento deles, o amor que os unia, na simplicidade de palavras e gestos desprendidos com sabor de "Aldeia da Roupa Branca".
Tudo neles me recorda um país que saía dos filmes nas minhas férias. A moça - agora viúva - ainda solteira, lavava a roupa no rio e servia copos de vinho com um desembaraço impressionante. Ao fim do dia, depois de todos aqueles duros trabalhos que lhes ocupavam os dias, ficavam ali ao fresco, a conversar baixinho, com uma expressão cheia de enleio.
Eram pessoas muito simples, de poucas palavras, que todos os anos me recebiam com alegria.
O filho deles foi o primeiro bébé pequenino em quem peguei. Uma loucura!
Passaram muitos anos.
A última vez que os vi foi no casamento do «bébé», hoje, também ele já pai de bébés.
Todas estas recordações vêm em catadupa.
Gostava muito deles, destas pessoas simples, vagamente aparentadas comigo. Personagens «da Terra» em que passávamos as férias, personagens da minha infância e sinónimos de sinceridade e simplicidade. De pessoas de poucas palavras mas muito fiáveis.
Sei dizer isto tudo, sei sentir isto tudo, estou a escrever isto tudo e pouco mais consegui que "os meus sentimentos", numa mensagem eletrónica que apitará de forma lacónica no bolso da viúva.

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