domingo, 26 de maio de 2013

Descobridores

Fica,
As paredes já estão despidas,
No chão apenas brinca o pó das nossas passadas
E os copos, vazios, ainda mostram as tuas mãos que neles ficaram marcadas.

Fica, 
O teu perfume ainda perdura nas almofadas,
O vazio de ti detém-me, inerte, aquém das barricadas
E as palavras ecoam em cada recanto das almas, que sós, ficaram maceradas.
Fica,
Regaremos cada pétala das rosas que secaram
Com as lágrimas que pelas nossas faces rolaram,
Dançaremos sobre os fogos que os nossos corpos, em uníssono, geraram
Fica,
Selaremos os segredos com os beijos ausentes de medos,
Brindaremos nossos corpos a todos os desassossegos,
Soltaremos os suspiros que a idade nos deixou em desenredos
Fica,
Falaremos pecados ficando abraçados
Seremos escultores trocando amores
Seremos em nós, descobridores
Fica.


Fernanda Paixão (2013-04-24)

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


NOTHING GOLD CAN STAY

O primeiro verde da natureza é dourado,
Para ela, o tom mais difícil de fixar.
Sua primeira folha é uma flor,
Mas só durante uma hora.
Depois folha se rende a folha.
Assim o Paraíso afundou na dor,
Assim a aurora se transforma em dia.
Nada que é dourado fica.


Robert Frost

Penso que coisas como "Ne me quittes pas" ou "Fica" são gritos desesperados — e o desespero, quando nos atinge, não nos deixa ser lúcidos. Quando, numa relação entre adultos, se chega à situação de pedir a alguém que não deixe a relação, então é porque ela não é já uma relação a dois, tornou-se um desejo de apenas um.
E penso, ainda, que raramente o que quer ir embora fica por muito tempo.

Eu, por exemplo, vou agora embora — mas volto, intermitentemente e sem prazo de validade, mas voltarei.

Beijito, Miss.

Escrivaninha disse...

E eu ficarei à espera...

(Não tenho muita queda para tecer mas posso ir lendo umas coisas enquanto espero).


Então, até ao seu regresso, Mestre.
Beijito.