Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
É inútil desistir. Por detrás das muralhas da vontade mora o desejo, a força que as derruba. Deixa que nasça, que avolume e suba esta maré de seiva e de ternura! A grandeza do homem, criatura que cresce enquanto ama e pode amar, é saber que só depois do gosto de pecar lhe vem o gosto de se arrepender.
Miguel Torga
Tenho esperança que, em relação ao planeta, o arrependimento venha ainda a tempo...
Resultado ou resultante de muito do que vamos fazendo ao planeta:
¨ TERRA — 24
António, é preciso partir! o moleiro não fia, a terra é estéril, a arca vazia, o gado minga e se fina! António, é preciso partir! A enxada sem uso, o arado enferruja, o menino quer o pão; a tua casa é fria! É preciso emigrar! O vento anda como doido – levará o azeite; a chuva desaba noite e dia – inundará tudo; e o lar vazio, o gado definhando sem pasto, a morte e o frio por todo o lado, só a morte, a fome e o frio por todo o lado, António! É preciso embarcar! Badalão! Badalão! – o sino já entoa a despedida. Os juros crescem; o dinheiro e o rico não têm coração. E as décimas, António? Ninguém perdoa – que mais para vender? Foi-se o cordão, foram-se os brincos, foi-se tudo! A fome espia o teu lar. Para quê lutar com a secura da terra, com a indiferença do céu, com tudo, com a morte, com a fome, coma a terra, com tudo! Árida, árida a vida! António, é preciso partir! António partiu. E em casa, ficou tudo medonho, desamparado, vazio.
3 comentários:
TERRA HUMANA
É inútil desistir.
Por detrás das muralhas da vontade
mora o desejo, a força que as derruba.
Deixa que nasça, que avolume e suba
esta maré de seiva e de ternura!
A grandeza do homem, criatura
que cresce enquanto ama e pode amar,
é saber
que só depois do gosto de pecar
lhe vem o gosto de se arrepender.
Miguel Torga
Tenho esperança que, em relação ao planeta, o arrependimento venha ainda a tempo...
Beijito, Miss.
Resultado ou resultante de muito do que vamos fazendo ao planeta:
¨
TERRA — 24
António, é preciso partir!
o moleiro não fia,
a terra é estéril,
a arca vazia,
o gado minga e se fina!
António, é preciso partir!
A enxada sem uso,
o arado enferruja,
o menino quer o pão; a tua casa é fria!
É preciso emigrar!
O vento anda como doido – levará o azeite;
a chuva desaba noite e dia – inundará tudo;
e o lar vazio,
o gado definhando sem pasto,
a morte e o frio por todo o lado,
só a morte, a fome e o frio por todo o lado, António!
É preciso embarcar!
Badalão! Badalão! – o sino
já entoa a despedida.
Os juros crescem;
o dinheiro e o rico não têm coração.
E as décimas, António?
Ninguém perdoa – que mais para vender?
Foi-se o cordão,
foram-se os brincos,
foi-se tudo!
A fome espia o teu lar.
Para quê lutar com a secura da terra,
com a indiferença do céu,
com tudo, com a morte, com a fome, coma a terra,
com tudo!
Árida, árida a vida!
António, é preciso partir!
António partiu.
E em casa, ficou tudo medonho, desamparado, vazio.
Fernando Namora
Beijito, Miss.
E o que andamos a fazer à Terra? E à nossa terra?
Hoje é um dia para refletir nisso tudo. Hoje é um dia para não desistir de refletir. Sempre!
Beijito, Mestre.
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