Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Frase
"Quem inventou o trabalho não tinha nenhum bom livro à mão."
Colhida por aí, na net.
Tão lindo! Hoje, por entre as múltiplas tarefas burocráticas que se agigantam com o final do ano letivo, esmagada pelas respostas dos testes dos meus alunos que refletem o país que temos e não anunciam muito melhor para o país que teremos, tive de ir ler um pouquinho, voltar a ver textos, frases bem construídos, ideias alinhadas e um pouco de romance. Após o almoço, prolonguei a bica na esplanada e dei comigo a sorver as palavras do romance sobre África que não consigo terminar por causa do contexto já descrito. Depois...paguei caro o devaneio e aqui estou eu, a trabalhar hoje, ainda que seja amanhã...
2 comentários:
ESTE É O PRÓLOGO
Deixaria neste livro
toda minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.
Que compaixão dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!
Que tristeza tão funda
é mirar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!
Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem despido
em Pégaso sem asas.
Ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se miram e se abraçam.
Um livro de poemas
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,
e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
— entranháveis distâncias.
O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchadas
de chorar o que ama.
O poeta é o médium
da Natureza-mãe
que explica sua grandeza
por meio das palavras.
O poeta compreende
todo o incompreensível,
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chama.
Sabe ele que as veredas
são todas impossíveis
e por isso de noite
vai por elas com calma.
Nos livros seus de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristonhas
e eternas caravanas,
que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.
Poesia, amargura,
mel celeste que mana
de um favo invisível
que as almas fabricam.
Poesia, o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
chamas e corações.
Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
nossa barca sem rumo.
Livros doces de versos
são os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
as estrofes de prata.
Oh! que penas tão fundas
e nunca aliviadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam!
Deixaria no livro
neste toda a minha alma...
Federico García Lorca
(Trad. Óscar Mendes)
Beijito, Miss. E muitos e bons livros.
Tão lindo!
Hoje, por entre as múltiplas tarefas burocráticas que se agigantam com o final do ano letivo, esmagada pelas respostas dos testes dos meus alunos que refletem o país que temos e não anunciam muito melhor para o país que teremos, tive de ir ler um pouquinho, voltar a ver textos, frases bem construídos, ideias alinhadas e um pouco de romance. Após o almoço, prolonguei a bica na esplanada e dei comigo a sorver as palavras do romance sobre África que não consigo terminar por causa do contexto já descrito. Depois...paguei caro o devaneio e aqui estou eu, a trabalhar hoje, ainda que seja amanhã...
Boa noite, Mestre. Beijito.
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