Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
sábado, 12 de maio de 2012
"Enquanto os leões não escreverem os seus próprios livros de História, só saberemos das caçadas as histórias dos caçadores."
Ouvi qualquer coisa assim parecida na publicidade ao novo livro de Mia Couto e procurei na net.
Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? Será essa, se alguém a escrever, A verdadeira história da humanidade.
O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo; O que não há somos nós, e a verdade está aí.
Sou quem falhei ser. Somos todos quem nos supusemos. A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.
Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância? Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?
Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas Sobre o parapeito alto da janela de sacada, Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.
Que é da minha realidade, que só tenho a vida? Que é de mim, que sou só quem existo?
Quantos Césares fui!
Na alma, e com alguma verdade; Na imaginação, e com alguma justiça; Na inteligência, e com alguma razão — Meu Deus! meu Deus! meu Deus! Quantos Césares fui! Quantos Césares fui! Quantos Césares fui!
1 comentário:
PECADO ORIGINAL
Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade.
O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.
Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.
Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?
Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.
Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?
Quantos Césares fui!
Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Álvaro de Campos
Beijito, Miss.
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