Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
domingo, 1 de janeiro de 2012
Toada à toa
"A vida, apenas se sonha que é plena, bela ou o que for. Por mais que nela se ponha é o mesmo que nada por.
Pois é certo que o vivido - na alegria ou desespero - como o gás é consumido... Recomeçamos de zero."
1 comentário:
À toa
O primeiro homem
Que lindo mundo! E eu só! Que tortura tamanha!
Ninguém! Meu pai é o céu. Minha mãe é a montanha.
A montanha
Os meus cabelos são os pinheirais sombrios
E veias do meu corpo os azulados rios.
Os rios
Nós somos o suor que o Estio asperge e sua,
Nós somos, em Janeiro, a água-benta da Lua!
A Lua
Eu sou a bala, no ar detida, d'essa guerra
Que teve contra Deus, em seu principio, a Terra...
A Terra
E eu uma das maçãs, entre outras a primeira,
Que certo Virgem viu cair d'uma macieira!
A macieira
Tantas ainda por cair! Vinde colhê-las!
Abanai a macieira e cairão estrelas!
As estrelas
No mar, à noite, reflectimo-nos, a olhar,
E formamos, assim, as estrelas-do-mar...
O mar
Sou padre. São d'água meus Santos Evangelhos:
Acendei meu altar, relâmpagos vermelhos!
Os relâmpagos
Nós somos (o contrário, embora, seja escrito)
Os fogos-fátuos d'esta cova do infinito...
O infinito
Sou o mar sem borrasca, onde enfim se descansa.
Aqui, vem desaguar o rio da esperança...
A esperança
Morri, irmãos!, mas lá ficaram minhas vestes,
No vosso mundo: dei-as dadas aos ciprestes.
Os ciprestes
Para apontar os céus, como dedos funéreos,
Plantaram-nos no pó dos mudos cemitérios...
Os cemitérios
Porão, beliches, tudo cheio!... Os céus absortos!
Não cabe em Josaphat esta leva de mortos!
Os mortos
Séculos tombam uns sobre outros, como blocos,
E nós dormindo sempre, eternos dorminhocos!
António Nobre
Beijito, Miss.
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