(...)
Refém da irresponsabilidade da ganância, a Europa não hesita em acolher governos ilegítimos e em adoptar como seu o discurso de que o voto do povo é um empecilho para "o que tem de ser feito". Esta Europa tem medo da democracia. E só a democracia pode resgatar a Europa."
José Manuel Pureza, no DN de ontem.
Um texto "aterradoramente" bom que deve ser lido na íntegra.
Um texto "aterradoramente" bom que deve ser lido na íntegra.
2 comentários:
Um bom alerta, sem dúvida. Lamentável é que os partidos políticos (incluindo o BE) venham sendo, eles mesmos, os coveiros da democracia — o único regime em que podem sobreviver todos eles em simultâneo.
Pôr no topo dos objectivos da actividade político-partidária a tomada do poder tem vindo a resultar no descrédito da democracia:
• tudo o que os outros fazem está errado, tudo o que nós fazemos está certo — e vira-se a página quando mudamos de cadeira e tudo o que antes erra errado passa a certo e vice-versa;
• quanto mais os nossos adversários se enterrarem (e com eles o país que governam), melhor para nós, que apareceremos como os únicos capazes de colar os cacos;
• não nos interessa a consequência dos nossos actos e alinhamentos, interessa é que sirvam de agit-prop (há que anos não usava esta expressão…). Derrube-se o governo, mesmo que o que inevitavelmente vem a seguir seja pior do que este — mas teremos aparecido na TV à hora dos telejornais!
Com estas trocas e baldrocas, natural é que os cidadãos vão desacreditando da política, confundindo-a com os políticos. E como o sistema tende a convocar mais a inércia do que a militância, isso tem levado ao afastamento e, pior ainda, a deixar nas mãos dos políticos a resolução da política. Reservamos para nós os lamentos, as generalizações de crimes e defeitos congénitos dos políticos, a assunção de que é o "nosso fado" aturá-los.
Será mesmo fado? Acho que não, acho que está nas nossas mãos vencer a inércia e lutar. "Basta" que sejamos cidadãos.
Beijito, Miss.
A cidade é um chão de palavras pisadas
A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.
A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.
A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
José Carlos Ary dos Santos
É essa luz, que ainda não há, que urgimos seja encontrada. Procuremo-la!
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