Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
domingo, 27 de novembro de 2011
É oficial: O Fado já é Património Imaterial da Humanidade!
pois eu cá devo mesmo ser do contra... só me ocorre organizar com o vasquinho da anatomia a semana contra o fado, esse veneno da raça, essa chaga de carácter social! :)
Almofada de missanga para deitar a cabeça, e um fumo negro na manga antes que alguém adoeça.
Quando saio pró emprego dizes-me adeus do postigo: gosto de ti seja cego fique já aqui tolhido!
Tomo o meu chá de limão na leitaria da esquina: ao beber treme-me a mão se ao meu lado no balcão se empoleira uma menina.
Almoço um pastel folhado volto ao escritório a correr sento-me à mesa apressado e logo o patrão, zangado, Antunes não pode ser!
No trinta e oito pra Chelas leio a Bola ao solavanco passam postes e janelas chamam no alto as estrelas há quem voe para elas e eu sentado no banco.
Esfrego os pés no capacho vens de robe dar-me um beijo que sejas nova não acho mas calo-me ponho um pacho e enquanto aqueces o tacho vai-se-me logo o desejo.
E tu em Marvila: amor não gostas do meu cozido? Mas seja lá como for gosto de ti sim senhor fique já aqui tolhido!
António Lobo Antunes
Nõ encontrei no YouTube a interpretação do Vitorino.
8 comentários:
Ah, então a partir de agora vou doer até que a voz me cante.
(Falta de voz...)
Beijito, Miss.
Pois eu - modéstia à parte - canto o meu fadito com garra. E estou muito feliz com esta distinção.
Beijito!
pois eu cá devo mesmo ser do contra... só me ocorre organizar com o vasquinho da anatomia a semana contra o fado, esse veneno da raça, essa chaga de carácter social!
:)
http://youtu.be/0qrq2erPY6c
(com legendas em russo & tudo!)
ahahaha
Fado da pré-reforma
Almofada de missanga
para deitar a cabeça,
e um fumo negro na manga
antes que alguém adoeça.
Quando saio pró emprego
dizes-me adeus do postigo:
gosto de ti seja cego
fique já aqui tolhido!
Tomo o meu chá de limão
na leitaria da esquina:
ao beber treme-me a mão
se ao meu lado no balcão
se empoleira uma menina.
Almoço um pastel folhado
volto ao escritório a correr
sento-me à mesa apressado
e logo o patrão, zangado,
Antunes não pode ser!
No trinta e oito pra Chelas
leio a Bola ao solavanco
passam postes e janelas
chamam no alto as estrelas
há quem voe para elas
e eu sentado no banco.
Esfrego os pés no capacho
vens de robe dar-me um beijo
que sejas nova não acho
mas calo-me ponho um pacho
e enquanto aqueces o tacho
vai-se-me logo o desejo.
E tu em Marvila: amor
não gostas do meu cozido?
Mas seja lá como for
gosto de ti sim senhor
fique já aqui tolhido!
António Lobo Antunes
Nõ encontrei no YouTube a interpretação do Vitorino.
Beijito, Miss.
Não conhecia...Mas uma pré-reforma (ou o afastamento dela, dada a situação) merece bem um fado.
Obrigada.
Beijito, Mestre.
JL
Não é mesmo contra o fado, pois não?
Mas as legendas em russo deram um toque subversivo extra.
:-))
A ordem cronológica das respostas está invertida, o que, para uma escrivaninha da História, não fica lá muito bem...
Apetece-me até desculpar em russo, mas...
... claro que niet. o fadovsky pode existir. ;)
(mas que o vasquinho sabia qualquer coisa, lá isso...)
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