terça-feira, 12 de maio de 2009

O Vasco Granja e eu

Dito assim parece importante. Parece que eu conheci pessoalmente o Vasco Granja. Quer dizer, quase que é verdade...
Vi nas revistas do fim de semana que o Vasco Granja, o homem da animação, tinha morrido.
Lembro-me, (como toda a gente, penso) dos seus programas de televisão. Alguns dos "bonecos" intrigavam-me muito, pois não eram tão vivos nem tão divertidos como os da Walt Disney, que eu devorava (como toda a gente, penso).
Mas - e é aqui que eu me destaco de "toda a gente" - lembro-me de um episódio que é só meu, que é a minha memória pessoal do Vasco Granja.
(Se pudessem ver o ar de importância que eu exibo agora...)
Estava eu a jogar à bola com a Paula, na rua da minha avó, em pleno centro da Amadora, quando ouço alguém, que passava perto, espirrar. Acto contínuo (fruto de um treino caseiro, tipo pavloviano, que nos obrigava a expressões estereotipadas reflexas, como atchim-santinho, obrigada-de nada, com licença-faça favor e etc) eu digo "Santinho". Qual não é o meu espanto quando encaro a pessoa que me dizia "obrigado" e ele era, nem mais nem menos que o senhor que apresentava os bonecos na televisão, de braço dado como uma senhora com ar de esposa.
O meu espanto foi tão grande, a minha emoção tão forte, que fiquei boquiaberta a fitar o senhor. Ele sorriu e fez-me uma festa numa bochecha.
Estão a ver a importância disto? O senhor da televisão, que apresentava os bonecos, fez-me uma festa numa bochecha! Hã? Quantos de vós se podem gabar do mesmo? Sou ou não sou especial?
Só é lamentável eu não me lembrar se a bochecha foi a esquerda ou a direita. Deve ter sido a direita. Digamos que foi a direita, para completar a história com mais exactidão.
E esta é a minha memória pessoal de Vasco Granja, que me coloca acima de muita gente que só o via na televisão.
Só agora soube dos seus problemas com o regime de Salazar e da sua actuação como anti-fascista. Só podia ser! Um homem com a cultura dele...
Mas nada disso tem tanta importância como o facto de ele ter sorrido para mim e me ter feito uma festa numa bochecha - a direita - já tinha decidido que me lembrava que era a direita.

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