No Verão passado li «O Regresso» de Bernhard Schlink.
Tive com esse livro uma relação muito forte. Primeiro que tudo apaixonei-me pela capa, numa tarde quente ainda de trabalho e não o comprei logo. Mais tarde procurei-o e encontrei-o apenas descrevendo a capa ao livreiro. Já isto foi invulgar…
Comecei a lê-lo e tive a sensação – como nunca tinha tido – de que aquela era uma escrita masculina.
Que sei eu de literatura para fazer esta afirmação? Não é uma afirmação de especialista, de conhecedora: é uma afirmação ditada pelo que senti. Durante toda a leitura do livro tive a sensação de que estava a dialogar com um homem, a conhecer “por dentro” um homem. Com os seus dilemas sobre a justiça e a ética, a moral e o sentimento, os medos e os segredos; os segredos que todos guardam dentro de si e que, por vezes, nos fazem viver uma vida de aparências.
Vivi agarrada ao livro durante vários dias do Verão. Terminei de o ler num dia muito quente, em que, em viagem, aportei a Mirandela e me instalei numa esplanada sobre o rio. Deu-se ali o fim do meu diálogo com aquele homem que escrevia o livro, para mim. O final foi desconcertante e durante muito tempo andei zangada (creio que incomodada) com o fim daquele diálogo.
Na semana passada, quando vi o anúncio do filme «O Leitor» reconheci os mesmos cenários e a mesma teia. Ontem lá estava eu, ávida de continuar aquele diálogo com Bernhard Schlink ou com as suas personagens, que devem ser muito autobiográficas.
Lá estava tudo outra vez: a paixão pelos livros; a Odisseia, de Homero; a relação desconexa entre moral e sentimentos, entre justiça e moral, entre sentimentos e justiça; o certo e o errado, a ferro e a fogo nas nossas vidas e os segredos, os segredos, as mentiras e as culpas que escavam vidas por dentro.
Foi muito bom reencontrar Schlink, nesta outra narrativa cujo final foi também algo desconcertante.
Um dia, quando voltar a ler livros sem a preocupação de “os fichar”, vou ler «O Leitor» e o que mais haja por aí de Bernhard Schlink.
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