segunda-feira, 18 de maio de 2009

Não se encolher no «Portugal dos pequeninos»

Foi ontem a Gala dos Globos de Ouro da SIC. Um grande espectáculo, por sinal.
Fez-me ter saudades daqueles espectáculos de «Variedades», em que passavam os nossos artistas, nós cantarolávamos qualquer coisa e comentávamos os fatos, as medidas e os rejuvenescimentos ou envelhecimentos...daqueles espectáculos que toda a gente comentava no dia a seguir... no tempo do monocanal, claro. Quer dizer, no meu tempo sempre foram dois, mas toda a gente comentava os programas do primeiro e muito poucos os do segundo...
Bem, mas não foi uma nota nostálgica que eu resolvi «postar» (isto já é verbo?) aqui. Muito pelo contrário. Foi uma nota de admiração pela coragem do nosso Feio, que eu ontem achei Lindo.
Começando pelo princípio: António Feio foi convidado para entregar um Globo de Ouro. Ele nunca recebeu nenhum, facto notado por Barbie Guimarães, anfitriã da noite.
Comportando-se como se estivesse ali para o receber, António Feio efectuou alguns agradecimentos e, em meu entender, deu uma «bofetada com luva de pelica» ao país, aos liliputianos (e às liliputianas também, claro) que fazem disto, às vezes, um «Portugal dos Pequeninos».
O António Feio foi então um Gulliver ao agradecer ao seu pâncreas, pois parece ser graças a ele que tem sido ultimamente convidado para todo o lado, saído em tudo o que é comunicação social (e também no Jornal 24 horas) e foi até capa de revista!...

Fiquei muito emocionada com a força e a coragem daquele homem que, em vez de se agachar e agradecer muito o interesse que toda a papelada tem tido pela doença dele, basicamente para o declarar «com os pés para a cova», acusou o país (com muita elegância e humor) de um certo gosto necrófilo, que só se interessa pelas pessoas quando lhes cheira a morte, a desgraça, a vale de lágrimas, a fatalismo, a um fado desgraçado qualquer.
Grande António Feio, que não só se propõe enfrentar a doença, como o país que passa de leve pelo seu excelente trabalho e faz reportagens de fundo com os seus problemas de saúde; ignora aquilo por que ele é responsável, e explora aquilo de que ele não tem culpa nenhuma.
Não só Feio, como Forte. Forte e Feio, como o título do seu livro.
E infinitamente Lindo pela coragem demonstrada!

2 comentários:

Ninguém.pt disse...

Concordo, ele é enorme! Temos, aliás, sempre tivemos, um grupo de artistas que não merecemos, não valoramos, não cuidamos. Eles são muitas vezes também enormes como seres humanos (é o caso do Feio).


Homens e Mulheres com maiúscula, Artistas do meu país, bem hajam!


(Afinal você também conjuga no Participado Passivo: “no meu tempo...”)

Escrivaninha disse...

"Touché!" Quer dizer...não completamente...porque, se reparar bem, eu utilizo a expressão para marcar o ínicio do "meu tempo", face ao Tempo (todo) e não para falar de algo que já passou.

Mas, sim, eventualmente, toda a gente usa. E eu também, claro.
Mas é algo que me desgosta e irrita, pois traz sempre consigo um afastamento, um saudosismo que não acho, em geral, saudável. Talvez por isso, me vingue nos outros, para fazer crer (a quem?)que eu sou diferente. Artifícios a que ninguém escapa, creio...