Tu procuras saber
eu não procuro porque
sei que nunca saberei
Tu queres abrir as
portas do conhecimento para fundares a tua integridade
Eu entrego-me ao vago
e indefinível vagar
da luz sobre a página
que nunca é um oásis
e não conduz ao
plácido porto que nela pressentimos
Tu desejas ir além
das sequências quotidianas
eu procuro também um
além
mas no interior da
sombra do meu corpo ao ritmo da respiração
para fortalecer a
minha incerta identidade
Tu não desistes de
conhecer a lucidez do centro
para que a vida
encontre o seu equilíbrio e o seu horizonte
Eu não conheço outro
horizonte além da vaga claridade
que às vezes brilha
no silêncio de um abandono
ou no fluir das
palavras que procuram a nudez
Tu procuras algo que
transcenda o mundo
eu procuro o mundo no
mundo ou para aquém dele
Eu sei que a
fragilidade pode cintilar
como uma constelação
ou como um delta
quando o corpo se
entrega sobre as dunas do silêncio
Tu queres ser a
coluna ou a balança viva
do puro equilíbrio
que sustenta o mundo
António Ramos Rosa in O Teu Rosto
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