quinta-feira, 13 de junho de 2013

Tu

Tu procuras saber
 eu não procuro porque sei que nunca saberei
 Tu queres abrir as portas do conhecimento para fundares a tua integridade
 Eu entrego-me ao vago e indefinível vagar
 da luz sobre a página que nunca é um oásis
 e não conduz ao plácido porto que nela pressentimos
 Tu desejas ir além das sequências quotidianas
 eu procuro também um além
 mas no interior da sombra do meu corpo ao ritmo da respiração
 para fortalecer a minha incerta identidade
 Tu não desistes de conhecer a lucidez do centro
 para que a vida encontre o seu equilíbrio e o seu horizonte
 Eu não conheço outro horizonte além da vaga claridade
 que às vezes brilha no silêncio de um abandono
 ou no fluir das palavras que procuram a nudez
 Tu procuras algo que transcenda o mundo
 eu procuro o mundo no mundo ou para aquém dele
 Eu sei que a fragilidade pode cintilar
 como uma constelação ou como um delta
 quando o corpo se entrega sobre as dunas do silêncio
 Tu queres ser a coluna ou a balança viva
 do puro equilíbrio que sustenta o mundo


António Ramos Rosa in O Teu Rosto

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