quarta-feira, 5 de junho de 2013

De que serve a bondade?

I

De que serve a bondade
Se os bons são imediatamente liquidados, ou são liquidados
Aqueles para os quais eles são bons?

De que serve a liberdade
Se os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necesitam?

2

Em vez de serem apenas bons, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
ou melhor: que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio!

Bertolt Brecht (1898-1956)

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


HINO À RAZÃO


Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre só a ti submissa.

Por ti é que a poeira movediça
De astros, sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações
buscam a liberdade entre clarões;
e os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!


Antero de Quental

Tem razão, o Brecht. Mas, apesar disso, a bondade, como as outras virtudes, tem sempre um efeito de contágio — embora seja semente que medra muito menos que a maldade, sempre se multiplica, lenta, lentamenta. Por isso precisam, os bondosos, de uma persistência muito grande para verem frutos do que semeiam.

Beijito, Miss. Semeemos boas sementes, nem que seja apenas para os nossos vindouros.

Escrivaninha disse...

Sim, eu também acredito nisso.

E creio que também invisto em deixar sementes daquilo que acho que está certo.

Beijito, Mestre.