terça-feira, 25 de junho de 2013

Hoje é um dia muito importante para a Democracia e a Escola Pública, que, a meu ver, não existem em pleno uma sem a outra.

4 comentários:

Ninguém.pt disse...

Hoje também é um dia muito importante. Ou deveria ser, se neste jardinzito mal amanhado não estivesse o direito à greve extremamente limitado pelos contratos a prazo e pelos recibos verdes e pelo desemprego e por tudo o que este sistema "liberal" aprontou para esvaziar de direitos o trabalho.

Temos medo, é a verdade. E recorro, como de costume, a um poeta para nos explicar o que isso é:

O MEDO
A Antonio Candido
"Porque há para todos nós um problema sério...
Este problema é o do medo."
(Antonio Candido, Plataforma de Uma Geração)

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.

Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.

E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.

O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.

Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.

Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,

eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.


Carlos Drummond de Andrade

Beijito, Miss. Vençamos o medo e verificaremos que o medo se muda para os que agora nos atemorizam.

Ninguém.pt disse...


PRINCÍPIO


Não tenho deuses. Vivo
Desamparado.
Sonhei deuses outrora,
Mas acordei.
Agora
Os acúleos são versos,
E tacteiam apenas
A ilusão de um suporte.
Mas a inércia da morte,
O descanso da vide na ramada
A contar primaveras uma a uma,
Também me não diz nada.
A paz possível é não ter nenhuma.


Miguel Torga

Espero que esteja em paz e que seja uma paz possível.
Beijito, Miss.

Ninguém.pt disse...


LEMBRETE


Se procurar bem,
você acaba encontrando
não a explicação (duvidosa) da vida,
mas a poesia (inexplicável) da vida.


Carlos Drummond de Andrade


Quem sabe se procurando bem não encontraríamos também a peça de mobília que vai faltando por aqui...

Beijito, Miss.

Escrivaninha disse...

Ai, Amigo, estou de volta, mas a arrastar a mobília com algum dano para o soalho.

Beijito.