segunda-feira, 10 de junho de 2013

Dia de Camões

Perdigão perdeu a pena

Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.

Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.

Quis voar a u~a alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha.

                  Luís de Camões

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


CAMÕES


Nem tenho versos, cedro desmedido
Da pequena floresta portuguesa!
Nem tenho versos, de tão comovido
Que fico a olhar de longe tal grandeza.
Quem te pode cantar, depois do Canto
Que deste à pátria, que to não merece?
O sol da inspiração que acendo e que levanto,
Chega aos teus pés e como que arrefece.
Chamar-te génio é justo, mas é pouco.
Chamar-te herói, é dar-te um só poder.
Poeta de um império que era louco,
Foste louco a cantar e louco a combater.
Sirva, pois, de poema este respeito
Que te devo e professo,
Única nau do sonho insatisfeito
Que não teve regresso!


Miguel Torga

Um império louco e, a partir de determinada altura, um império serôdio e dirigido por mãos pequeninas.

Beijito, Miss. Sem penas, talvez o perdigão se deixe apanhar mais facilmente e se disponha a ser saborosa refeição — ajustes a que não acede de boa mente e bem se entende porquê.

Escrivaninha disse...

Que belo este poema de Torga!

Será sina de Portugal ser governado por mãos pequeninas?

Beijito, Mestre.