segunda-feira, 18 de março de 2013

O Meio

Diziam-me que "no meio é que está a virtude", mas eu creio que o meio é que é o mais difícil (talvez porque a virtude também não seja fácil) porque na voz dos poetas a infância e a velhice são doces...bonitas...simples.
E "no meio" tudo é tão complicado!


Vamos ser velhos ao sol nos degraus
 da casa; abrir a porta empenada de
 tantos invernos e ver o frio soçobrar
 no carvão das ruas; espreitar a horta
 que o vizinho anda a tricotar e o vento
 lhe desmancha de pirraça; deixar a 

chaleira negra em redor do fogão para
 um chá que nunca sabemos quando
 será - porque a vida dos velhos é curta,
 mas imensa; dizer as mesmas coisas
 muitas vezes - por sermos velhos e por
 serem verdade. Eu não quero ser velha
 
sozinha, mesmo ao sol, nem quero que

 sejas velho com mais ninguém. Vamos
 ser velhos juntos nos degraus da casa -  

se a chaleira apitar, sossega, vou lá eu; não
 atravesses a rua por uma sombra amiga,
 trago-te o chá e um chapéu quando voltar.
 
Maria do Rosário Pedreira, Poesia Reunida

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