terça-feira, 12 de março de 2013

A sala de estar - Poema IX

a gaveta dos poetas

é um espólio de palavras sem nexo
que não rimam.
 foram versos escritos ao acaso,
 palavras escritas de silêncio,
 sem continuidade.
 a gaveta dos poetas está cheia de sentimentos
que nunca ganharam vida.
 fêmeas frígidas,
 incapazes de fecundar depois de possuídas.
 foram desejos reprimidos
 queimados em mais de mil cigarros.
 a gaveta dos poetas
 está cheia de horas, de noites, de vazios.
 não é poesia o que lá vive.
 é solidão, é veneno, pulmões que não respiram.
 um chão de palavras pisadas.
 as asas de um sonho castrado.
 guardem os poetas na gaveta.
 
Paulo Eduardo Campos in A Casa dos Archotes

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


VIDA


Não sei
o que querem de mim essas árvores
essas velhas esquinas
para ficarem tão minhas só de as olhar um momento.

Ah! se exigirem documentos aí do Outro Lado,
extintas as outras memórias,
só poderei mostrar-lhes as folhas soltas de um álbum de imagens:
aqui uma pedra lisa, ali um cavalo parado
ou
uma
nuvem perdida,
perdida...

Meu Deus, que modo estranho de contar uma vida!


Mario Quintana


Beijito, Miss. Não engavetem os poetas!

Escrivaninha disse...

Olá Mestre!
O pior é que estão a engavetar os poetas, a engravatar os homens e a pôr-nos a todos a esgravatar não só o nosso sustento, como as opiniões que podemos veicular e a quem o podemos fazer.
Abate-se sobre nós um medo estranho, um medo sem sentido numa democracia.
Mas ele está aí! O Medo. Faz medo constatar isto.

Beijito.