domingo, 2 de dezembro de 2012

Como é que os Poetas podem já ter dito tudo o que estamos a sentir...e queremos dizer...e precisamos de dizer?
Já foi dito!
Já tudo foi dito.
Mas do tanto que já foi dito, como é que ainda pode haver tanto por sentir?

2 comentários:

Ninguém.pt disse...

Não me parece que já tudo tenha sido dito — porque o resultado de dizer é apenas gerar ondas sonoras que se perdem se não houver receptor.

E, mais ainda, cada conjunto de ondas terá uma interpretação diferente consoante o receptor, consoante o ambiente, consoante a disposição e o momento.

O conjunto de ondas geradas pela verbalização da palavra "flor", por exemplo:
• gerará um sorriso de felicidade se o receptor tiver dentro de si a Primavera; a flor enquadrar-se-á no clima ameno, florido, esperançoso — mesmo que seja Inverno;
• gerará um esgar de espanto se surgir no meio de uma disposição invernosa, sombria, macambúzia, do receptor — por muito florido que esteja o ambiente;
• será esperança se o receptor estiver ansioso à procura de qualquer coisa, de um sinal onde possa agarrar-se — por muito desesperada que seja a situação;
• será desilusão se, embora dizendo o contrário, o receptor desejar um sinal negativo — "preciso de um caule para me agarrar e surge esta insignificante flor"...
• será mil e uma outras coisas, quase todas ditas, quase todas ouvidas, quase todas sofridas por quase todos nós...

... mas será sempre uma conjugação diferente aquela em que seremos o receptor da palavra "flor" — é esse o mistério da vida, é esse mistério que ela compartilha com a poesia.

Por isso eu costumo dizer que não há apenas uma versão do poema que o poeta deixou: há uma para cada uma das nossas disposições, sempre diferente e sempre adaptando-se ao que sentimos no momento — é assim que se reconhece a excelência do que está escrito.


OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…


Mário Quintana


Beijito, Miss.
(Desculpe o arrazoado acima, é febre...)

Escrivaninha disse...

Não é a febre de qualquer um que fala assim...

Beijito, Mestre.