quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O tempo é de excessos!
Uns excedem-se em mesuras, outros atiçam amarguras...Nada é calmo nem sereno.
Os computadores não chegam para as urgências de registos deste tempo.
Afadigamo-nos parecendo convivas, quando só queremos que os outros vão à vida e nos deixem cumprir as tarefas que nos toldam o entendimento.
Custa assim ensinar a alegria e a serenidade. Custa assim acreditar que a Escola é um templo do saber. Mais parece um templo em que ao deus se dedicam sacrifícios humanos.

Corri pela ladeira abaixo deixando lá em cima o manicómio da sala de professores, com os autómatos ainda ligados ao tempo do relógio.

Hoje resolvi recuperar o que é meu!
Cheguei a casa e olhei para as paredes, para as estantes e resolvi que tinha o direito de existir, como eu mesma.
Hoje procurei os Poetas, para saber que existiram, que fizeram o mundo, em todas as épocas, que vão voltar e resgatar a Pátria, a Língua, o Ensino, a Cultura, a Paz e a Liberdade.
Porque é para nos libertarem que os Poetas escrevem. Para nos manterem vivos e únicos. Para que as suas palavras possam fazer eco num espírito que é só nosso, onde (ainda) não chegam diretamente os mails com que nos bombardeiam e as muitas instruções com que nos cegam.

Hoje procurei os Poetas. Hoje encontrei os Poetas.

"ESTROFES AO JEITO CLÁSSICO

Dos poetas se diga com justiça
Que os não há antigos ou modernos,
Quem escreve persevera e vai à liça
Que os poetas, em o sendo, são eternos

Fique Dante em Ravena ou no Olimpo
E Camões exilado a oriente
Que o cantar que nos legam é tão limpo
Como a água brotando da nascente

E o poeta que os poetas eterniza
Vertendo na fala de hoje o seu dizer
Muito mais que tradutor é pitonisa
Negando aos grandes o direito de morrer

Clássico é o metro desta lavra
Cintilante no garimpo de outros sons
E o poeta alcandorado na palavra
Rima sempre com a virtude dos seus dons.

José Jorge Letria in a vista desarmada; o tempo largo: antologia (poetas em homenagem a Vasco Graça Moura), Lx, Quetzal, 2012, p. 51

1 comentário:

Ninguém.pt disse...


SE OS POETAS DESSEM AS MÃOS


Se os Poetas dessem as mãos
e fechassem o Mundo
no grande abraço da Poesia,
cairiam as grades das prisões
que nos tolhem os passos,
os arames farpados
que nos rasgam os sonhos,
os muros de silêncio,
as muralhas da cólera e do ódio,
as barreiras do medo,
e o Dia, como um pássaro liberto,
desdobraria enfim as asas
sobre a Noite dos homens.

Se os Poetas dessem as mãos
e fechassem o Mundo
no grande abraço da Poesia.


Fernanda de Castro


No nosso país não há filósofos, apenas poetas. São eles quem traça o rumo, que ergue a bandeira, quem guia a turba.

Beijito, Miss.