quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Outras Crises


Defendo eu, repetidamente, que esta crise não é pior que outras e que o que agiganta a nossa angústia é uma consciência das coisas “em tempo real”, insistentemente aumentada pelos vários canais de informação. Defendo eu que o que nos está a ser mais prejudicial – mais prejudicial ainda que a carga fiscal – é o terrorismo informativo de que estamos a ser vítimas, fruto do mercado concorrencial capitalista aplicado ao jornalismo, que se alimenta dos gostos necrófagos das massas que se querem «informadas».
Irei por isso começar a «coleccionar» citações e provas de outras crises tanto ou mais gravosas que esta, que beneficiaram, no entanto, da lentidão e parcimónia da informação da época.
Note-se que não defendo o controle estatal da informação – nada semelhante à censura – mas gostaria que houvesse bom senso na apresentação das notícias…algo que já percebi que tenho de deixar de almejar.
O texto de hoje inaugura então uma nova etiqueta: Crises outras.
“Já no fim do século dezanove (1898-1899) a região norte foi alertada para um potencial surto de peste bubónica, aquilo a que, correntemente se apelidava de cólera.
(…)
Relativamente ao foco infeccioso do Porto, as notícias chegaram muito rapidamente às vilas e cidades mais próximas que, com razão, temeram o alastramento da epidemia. Dado o alerta geral compreendem-se todos os medos e todas as medidas preventivas tomadas.
Esta medida de encerrar os pontos de entrada e de saída de mercadorias, em especial nos portos mais críticos, provocou uma crise tremenda na economia nacional. Os níveis de desemprego dispararam e a fome chegou a grassar por todo o lado.
Valerá a pena, a título de curiosidade, dizer que esta calamidade cujas causas estavam bem localizadas, foi aproveitada politicamente pelos adversários do governo que não hesitaram em atribuir a culpa ao próprio Rei!”
(Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Barcelos: 125 Anos de serviço, pp. 83-84)
E sempre a política ao serviço da confusão (e dos interesses particulares) e não do «interesse nacional»!

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