Defendo eu, repetidamente, que esta crise não é pior que
outras e que o que agiganta a nossa angústia é uma consciência das coisas “em
tempo real”, insistentemente aumentada pelos vários canais de informação.
Defendo eu que o que nos está a ser mais prejudicial – mais prejudicial ainda
que a carga fiscal – é o terrorismo informativo de que estamos a ser vítimas,
fruto do mercado concorrencial capitalista aplicado ao jornalismo, que se
alimenta dos gostos necrófagos das massas que se querem «informadas».
Irei por isso começar a «coleccionar» citações e provas de
outras crises tanto ou mais gravosas que esta, que beneficiaram, no entanto, da
lentidão e parcimónia da informação da época.
Note-se que não defendo o controle estatal da informação – nada
semelhante à censura – mas gostaria que houvesse bom senso na apresentação das
notícias…algo que já percebi que tenho de deixar de almejar.
O texto de hoje inaugura então uma nova etiqueta: Crises
outras.
“Já no fim do século dezanove (1898-1899) a região norte foi
alertada para um potencial surto de peste bubónica, aquilo a que, correntemente
se apelidava de cólera.
(…)
Relativamente ao foco infeccioso do Porto, as notícias
chegaram muito rapidamente às vilas e cidades mais próximas que, com razão, temeram
o alastramento da epidemia. Dado o alerta geral compreendem-se todos os medos e
todas as medidas preventivas tomadas.
Esta medida de encerrar os pontos de entrada e de saída de
mercadorias, em especial nos portos mais críticos, provocou uma crise tremenda
na economia nacional. Os níveis de desemprego dispararam e a fome chegou a
grassar por todo o lado.
Valerá a pena, a título de curiosidade, dizer que esta
calamidade cujas causas estavam bem localizadas, foi aproveitada politicamente
pelos adversários do governo que não hesitaram em atribuir a culpa ao próprio
Rei!”
(Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Barcelos: 125 Anos
de serviço, pp. 83-84)
E sempre a política ao serviço da confusão (e dos interesses particulares) e não do «interesse nacional»!
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