quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Tempo tem mais olhos que barriga

Com algum tempo sem tempos marcados, dediquei-me hoje às pesquisas que tanto me apaixonam e que - dantes - me mantinham toda a frescura de poder ensinar aos meus alunos a alegria de investigar, de prescrutar a História.
Agora são já as necessidades de cumprir os compromissos assumidos, roubando algum tempo ao descanso, que em tempos de escola, todos os tempos são poucos para cumprir a buroCratice e tentar gerir o número impensável de alunos que o monstro do Ministério da Educação nos atribuiu, para justificar a austeridade num dos Ministérios erroneamente considerados despesista, só para quem não consegue perceber a noção de investimento em capital humano, em qualidade do futuro, em formação.
Entre a Internet, alguns livros e papeis já rascunhados vou lavrando a minha pesquisa.
Procurei Guilherme Cossoul, músico do séc. XIX e "pai" dos Bombeiros Voluntários em Portugal.
Entradas não faltam para o nome que pesquiso, mas, ironia dos tempos, poucas falam do que quero. Guilherme Cossoul é listado (abundantemente listado) pelas iniciativas da Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul que, como «ela própria» esclarece, surge da música, mas cresce no teatro e pela travessa Guilherme Cossoul, algures na freguesia da Encarnação, com muitas entradas de pedidos de licenciamento de obras no Arquivo Municipal da Câmara de Lisboa.
Sobre o próprio, a personagem que procuro, o idealista que uma vez abandonou a regência da orquestra de  S. Carlos e combateu um incêndio de sobrecasaca e laço, encontro uma entradita na Wikipédia (retirada do site dos B. V. Lisbonioenses) e a descrição pormenorizada da obra de arquitetura que é o seu jazigo no cemitério dos Prazeres.
Fiquei assim a pensar como as listas da internet espelham um presente que por vezes prega partidas ao passado. Guilherme Cossoul é um nome muito presente, mas poucas entradas assinalam de facto o que ele deixou na História e conduzem-nos num percurso posterior que o seu nome seguiu, afastando-o daquelas que foram as linhas de vida da personagem histórica do séc. XIX.
A toponímia e as iniciativas culturais que nasceram do seu nome fizeram emergir todo um percurso post-mortem que quase esquece as razões de ser do "patrono" da rua, da cultura, de outros tempos... 
E lembrei-me do "estribilho" da canção da Susana Félix: o tempo tem mais olhos que barriga e por vezes devora e transforma uns alimentos da História, devolvendo-os numa 'nouvelle cuisine' quase irreconhecível.

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