segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Balada da Neve

Confesso que não me lembro de ler a Balada da Neve na Escola Primária.
Comecei-a ainda de bata branca, separada dos meninos por um muro de cimento, pouco antes da explosão vermelha de cravos que fez cair o muro e as batas em farrapos de tempo passado.
Ou não li, ou não me lembro.
Recebi-o na versão massacrante e jocosa de Herman José e percebi que era algo de assimilado para quase todos os escolarizados.

Mas hoje, ao ouvir a notícia de que grande parte das escolas vão servir refeições nas férias do Natal de forma a assegurar a alimentação às crianças mais desfavorecidas, resolvi procurar o poema completo. Não me saía da cabeça - desde a notícia ouvida no rádio - a frase "Mas as crianças, Senhor. Porque lhes dais tanta dor?"

Encontrei-o então, dito numa voz da minha infância. Uma voz que comentava os desenhos. Eram uns desenhos fabulosos. Traçados rapidamente, sobre um papel transparente, assim, à nossa frente, corriam os traços que ilustravam a história que a Voz contava. A preto e branco. A espaço e traço, a história era construída em directo, num acto mágico que marcou a minha infância.

A minha infância onde o frio que entrava pelas frinchas das grandes janelas com portadas de madeira nunca se assemelhou às privações que as crianças da balada da neve e das cantinas das escolas portuguesas neste inverno estão a passar.

Não sei porque o poema ficou tão mal-visto! Tirando a referência religiosa aos pecadores (que considero um pouco obsoleta, mas perfeitamente dentro do espírito da letra na sua época) acho a Balada tristemente adequada à notícia de hoje, da necessidade das escolas manterem uma refeição quente e completa durante as férias, pois essa será, para muitos meninos, a única refeição do dia.

3 comentários:

Ninguém.pt disse...


Criança


Cabecinha boa de menino triste,
de menino triste que sofre sozinho,
que sozinho sofre, — e resiste,

Cabecinha boa de menino ausente,
que de sofrer tanto se fez pensativo,
e não sabe mais o que sente...

Cabecinha boa de menino mudo
que não teve nada, que não pediu nada,
pelo medo de perder tudo.

Cabecinha boa de menino santo
que do alto se inclina sobre a água do mundo
para mirar seu desencanto.

Para ver passar numa onda lenta e fria
a estrela perdida da felicidade
que soube que não possuiria.


Cecília Meireles

Beijito, Miss.

josé luís disse...

que estas luzes brilhem sempre para si:

http://youtu.be/z1rYmzQ8C9Q

(feliz natal!)

Escrivaninha disse...

Muito obrigada.

Feliz Natal!