terça-feira, 2 de agosto de 2011

A propósito do nada

"sou
para o outro
este corpo esta
voz
sou o que digo
e faço
enquanto posso


mas
para mim
só sou
se penso que sou
enfim
se sou
a consciência
de mim

e quando
vinda a morte
ela se apague
serei o que alguém acaso
salve
do olvido

já que
para mim
(lume apagado)
nunca terei existido"

Ferreira Gullar

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


Bem no fundo


No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.


Paulo Leminski

Beijito, Miss.

Escrivaninha disse...

"problemas têm família grande"
Tão fantástico como, em tom de brincadeira, este poeta dispara tiros certeiros. Adorei!

Beijitos fresquinhos de Verão.