quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Compromisso

     "Após a fase do «a toda a hora e mais que houvesse», foram dois anos, inteirinhos, naquela luta, naquele desacerto, de desejo frustrado para ambos.
     Ela, à noite, deslizando qual pantera sobre os lençóis e o corpo dele, libertando tanto calor que quase provocaria uma explosão de gás, para esbarrar com o sono dele, que a atendia, por vezes com uma certa condescendência, e que, por mais de uma vez, adormeceu quando, de facto, não devia…não podia.
     Ele, acordando, rijo e energético, manhã cedo a amaciar-lhe a pele, a apalpar-lhe as carnes, a explodir desejo antes mesmo de ela acordar e a queixar-se mais tarde da falta de entusiasmo dela, que acordava, realmente, tarde demais.
     Decidindo terminar com o suplício, por manifesta incompatibilidade, escolheram a hora do meio-dia para assinar o divórcio."

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


Não é o amor quem morre


Não é o amor quem morre,
somos nós mesmos.

Inocência primeira
Abolida em desejo,
Olvido de si mesmo em outro olvido,
Ramos entrelaçados,
Para quê viver se desapareceis um dia?

Só vive quem olha
Sempre ante si os olhos da aurora,
Só vive quem beija
Esse corpo de anjo pelo amor levantado.

Fantasmas da dor,
Ao longe, os outros,
Os que esse amor perderam,
Como lembrança em sonhos,
Correndo as tumbas
Abraçam outro vazio.

Por aí vão e gemem,
Mortos em pé, vidas sob a pedra,
Agredindo a impotência,
Arranhando a sombra
Com inútil ternura.
Não, quem morre não é o amor.


Luis Cernuda

Beijito, Miss.

josé luís disse...

é que nem na hora do divórcio acertaram... era precisamente ao meio-dia que deviam... :)