Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
segunda-feira, 29 de março de 2010
Em certos momentos
parece que voltamos à «idade dos porquês». Porque será?...
Eu queria mais altas as estrelas, Mais largo o espaço, o sol mais criador, Mais refulgente a lua, o mar maior, Mais cavadas as ondas e mais belas;
Mais amplas, mais rasgadas as janelas Das almas, mais rosais a abrir em flor, Mais montanhas, mais asas de condor, Mais sangue sobre a cruz das caravelas!
E abrir os braços e viver a vida, – Quanto mais funda e lúgubre a descida Mais alta é a ladeira que não cansa!
E, acabada a tarefa... em paz, contente, Um dia adormecer, serenamente, Como dorme no berço uma criança!
Salve! Estávamos tão apreensivas!... (E quando digo estávamos, não falo só de mim e das minhas gavetinhas de escrivaninha. Ainda no sábado uma amiga me dizia, com ar muito genuíno: "Estou muito preocupada com o Mendes!..." Esta noite já poderá adormecer serenamente.) Não é sempre preciso saber porquê, ou outras vezes não queremos apenas reconhecer os porquês que sabemos... Mas que mais interessa agora isso? Fique por perto, se puder.
Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.
3 comentários:
Tão posta em sossego anda a Escrivaninha! Pois o caruncho volta atacar...
«He hum não querer mais que bem querer» (X)
Eu queria mais altas as estrelas,
Mais largo o espaço, o sol mais criador,
Mais refulgente a lua, o mar maior,
Mais cavadas as ondas e mais belas;
Mais amplas, mais rasgadas as janelas
Das almas, mais rosais a abrir em flor,
Mais montanhas, mais asas de condor,
Mais sangue sobre a cruz das caravelas!
E abrir os braços e viver a vida,
– Quanto mais funda e lúgubre a descida
Mais alta é a ladeira que não cansa!
E, acabada a tarefa... em paz, contente,
Um dia adormecer, serenamente,
Como dorme no berço uma criança!
Florbela Espanca
Será sempre preciso saber porquê?
Salve!
Estávamos tão apreensivas!...
(E quando digo estávamos, não falo só de mim e das minhas gavetinhas de escrivaninha. Ainda no sábado uma amiga me dizia, com ar muito genuíno: "Estou muito preocupada com o Mendes!..." Esta noite já poderá adormecer serenamente.)
Não é sempre preciso saber porquê, ou outras vezes não queremos apenas reconhecer os porquês que sabemos...
Mas que mais interessa agora isso?
Fique por perto, se puder.
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
Enviar um comentário