terça-feira, 15 de outubro de 2019

Procura-se um tapete voador

Voltei ao mundo do maravilhoso e do fantástico.
Livre que estou este ano da obrigação de racionalizar tudo, comecei a ter saudades do meu tapete voador.
Não me tinha dado conta (a infância já vai ficando tão atrás) que adorava as histórias que envolviam um tapete voador.
Recordei-me disso aqui há uns anos, no momento de relaxamento de uma aula de yoga, em que o professor nos convida a imaginar-nos num lugar de sonho, de conforto, numa situação muito aprazível...e eu dou comigo num tapete voador. Não me apercebi logo do que se passava. Primeiro vi ao longe umas torres invulgares - do Kremlin ou dos Palácios do Mundo de Aladino - e, à medida que se aproximavam, apercebi-me que as via de cima, que as sobrevoava. E depois lá me vi sobre o tapete, com uns olhos grandes de conhecer - escuros, como nos bonecos da Heidi - e uma melena preta a ondular com o vento.
Fiquei surpreendida. Saí daquela aula muito menina.
Mas arrumei de novo o tapete na área das memórias/fantasias e a calquei tudo com a brutal dose de realidade racional-o-capitalista de que me tenho servido em doses industriais.
Até chegar ao momento presente.
Se é para aproveitar para viver sem espartilhos, é o momento de voltar a usar o tapete.
Comprei uma edição dos Contos das Mil e Uma Noites, que, na realidade, nunca tinha lido (pelo tamanho da edição nem a 500,5 devem chegar os contos) e deixei-me embalar nas histórias fantásticas que não carecem de lógica, que me transportam ao mundo da minha infância, dos olhos grandes de aprender, da boca aberta de sorver emoções, sem explicação, sem necessidade, sem quê nem porquê. Só assim. Porque sim. Tão assim.
Ainda não cheguei a nenhum tapete (mas já encontrei dois génios, não em lâmpadas, mas em panelas) e muita, muita magia. Em contos que se desdobram como matraioskas (a expressão não é minha, é do prefácio da obra, mas é tão ela) passeio por maldições e encantamentos, feitiços e transmutações e tudo, tudo é possível. Tão facilmente possível.
É um deleite! Expressão que irrompeu da minha leitura, assim, sem mais aquelas. Uma palavra arrumada há quase tanto tempo como o tapete.
Talvez porque desejo e procuro o tapete, o dia hoje foi dado a céus. Deslumbrantes, espantosos, maravilhosos e fantásticos. Para viver à força toda, sem necessidade, quê nem porquê.
Tão bom!


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