"- Mas...estás apaixonada? - indagou tentando justificar o brilho que ela irradiava.
- Não - disse ela, devagar, o que conferia credibilidade à afirmação - Mas podia estar.
- Claro que podias estar. Qualquer pessoa pode estar...ficar...
- Não. - continuava a mover as palavras devagar no tabuleiro daquela conversa - Eu não. Mas agora compreendi que afinal também posso estar, ficar...apaixonar-me. Que também eu sou, ainda sou...
- Oh querida! Claro que és apaixonável. Todos nós sabemos isso. Era isso que ias dizer, não era?
- Não é bem isso...não creio que haja uma palavra para exprimir o que quero dizer. Também eu me posso apaixonar. Não é preciso ser agora. Nem é preciso ser...Mas é possível. Agora é possível!
O ar dela dispensava considerações de outrem. Parecia estar numa conversa distante consigo própria. E uma conversa satisfatória.
A amiga recolheu qualquer opinião pensando que o Natal deixa os temperamentos alterados, tudo fica mais sensível e...bem, já tinha visto situações muito piores. Esta era...intrigante, talvez...mas não preocupante. E, definitivamente, não solicitava qualquer intervenção da sua parte.
Por isso ficaram caladas, olhando as estrelas num céu invulgarmente brilhante para a época natalícia."
Boas Festas!
Porque festas são sempre boas.
Será que as palavras ficam presas no tempo? Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil? Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?... Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto. Por puro prazer!
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