Atravessando cedo a principal praça da cidade ouço a conversa entre duas empregadas de um café que organizavam a esplanada:
- Olha para a fila do Correio!
- Deus seja louvado!
Olhei para a longa fila de gente à porta dos Correios, esperando pela abertura do serviço, mas não consegui perceber porque é que Deus deveria ser particularmente louvado por uma longa fila de pessoas que queria receber a pensão ou enviar cartas.
2 comentários:
CARTA
Há muito tempo, sim, não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelhecí: olha em relevo
estes sinais em mim, não das carícias
(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que a sol-posto
perde a sabedoria das crianças.
A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
"Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.
É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.
Carlos Drummond de Andrade
Tenho saudades do tempo em que não tínhamos ainda "aprendido" a não dizer bicha com medo de confusões. Era um tempo em que as telenovelas brasileiras não nos vinham "ensinar" a não usar palavras, mas apenas a usar novas e divertidas brasileirices.
Beijito, Miss. E evite as bichas para os selos: envie e-mails.
Há tanto tempo que não envio uma carta!
Da última vez - há uns anos - adquiri o último bloco de carta (com imagens em fundo) e envelopes da papelaria.
E esforcei-me muito por merecer aquele papel numa sentida missiva para uma amiga do lado de lá do Atlântico.
Beijito, Mestre.
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