sábado, 20 de abril de 2013

Os Sonhos

atrapalham tantas vezes a realidade.
E depois?
Devemos seguir os nossos sonhos, continuar a "utopiar" ou ceder à realidade e "conformarmo-nos"?
Hoje, para aqui entre comprimidos, chás e lenços de papel, lembrei-me deste verbo. É um verbo antigo, do Portugal do Estado Novo: "Temos de nos conformar com a nossa sorte"; ou dos funerais: "Só podemos conformar-nos, foi a vontade de Deus."
E se com a vontade de Deus não me meto - nem mesmo agora que Jesus é o Diogo Morgado - com a realidade criada pelos homens creio que não tenho de me conformar.
Mas tudo isto agrava ainda mais as dores de garganta, a falta de voz, os gritos que morrem antes de soar devido à afonia.
Será uma afonia social? Profissional?
O país está a definhar, as pessoas estão a demitir-se de pensar e - o sentimento que me vai sendo recorrente - consideram incómodo e maçador quem se questiona, quem os questiona, quem ainda se importa.
São pequenas subtilezas que nos mostram diariamente - por vezes horariamente ou minutamente - que os direitos se estão a perder numa estrada de um só sentido.
Uma notícia de hoje do Público dizia que as vagas que o Ministério anunciou para o concurso de professores afinal não correspondem "às necessidades dos diretores."
Dos diretores?!?
Essa figura recente (ou retornada?), sinistra, cinzenta, a quem quase todos se curvam antes de vir a ordem para tal, tornou-se o centro nevrálgico das escolas. Nunca, em tempos bem pertinho de nós, para trás, seria admissível uma notícia destas: as necessidades são dos diretores ou das escolas?
De onde vêm esses diretores? Frequentemente de um lugar de ensino, que não estimavam muito, em busca de poder.
Mas não me choca a ambição destes: choca-me (aterra-me, enoja-me, revolta-me) a dádiva abundante de poder que lhe colocam aos pés antes mesmo de eles pedirem.
Colegas de há pouco enchem a boca com "o senhor diretor" para se referirem entre nós a quem ainda há pouco chamavam pelo nome.
Nos serviços públicos já não se ouve o cidadão: é assim! E afastam qualquer reclamação ou pedido de esclarecimento como um impedimento escusado, uma forma de dificultar e de atrasar os outros que esperam.
Já não somos cidadãos. Somos membros de um rebanho acéfalo!
Colocamo-nos tão facilmente uns contra os outros! É tão triste. Somos tão lestos em aplaudir a perda de direitos de quem tem mais que nós, em vez de nos solidarizarmos e também nós pugnarmos por aquilo que é nosso. Já nem sei se existe plural...
Estou tão inconformada a ver o meu país a esboroar-se aos bocadinhos!
Estou doente. Estou muito doente!

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