domingo, 21 de abril de 2013

Amargura

Detesto entregar-me à amargura. Eu não sou assim. Normalmente sou alegre, positiva, mas tem dias...
Não me considero uma pessoa invejosa, mas ontem, mais uma vez a ver um filme, resolvi que tenho de assumir que há uma situação que me causa muita, muita inveja: ver alguém ouvir da boca de um pai ou de uma mãe que tem muito orgulho nele/a.
Mas a minha sina é que neste caso não dá para tentar atingir o que os outros têm. Não posso vigarizar ninguém para tentar obter o que quero, causar um desfalque, efetuar um assalto...Nada! A minha inveja não tem solução.
Resta-me recordar os momentos que a minha mãe passou comigo e enquanto outros têm saudades de mimos, carinhos, elogios...eu dei comigo esta noite, no meio das voltas a curtir as dores de garganta, ter saudades das zaragatoas da minha mãe.
Foram muitas as zaragatoas que a minha mãe me deu, nas minhas muitas noites infantis e juvenis a chorar com dores de garganta. Era uma coisa horrível, com um sabor horrível, mas aliviava a dor.
É incrível como por vezes sentimos a falta de coisas que não gostávamos.
E daí o título do post: amargura, porque aquilo era amargo, muito amargo e eu creio que «amargoso», como os meus alunos dizem, não existe. Fiquemos na amargura, então.

2 comentários:

Ninguém.pt disse...

Ser pai e ser velho ensina-nos muita coisa, Miss.

Ensina-nos, por exemplo, a perceber por que razão uma mãe (eu não tive pai, pois morreu antes de eu ter dois anos…) nunca nos disse que tinha orgulho em nós. E mais ainda, leva-nos a perguntarmo-nos quantas vezes lhe dissemos que tínhamos orgulho neles.

No meu caso a resposta é simples: zero vezes! E, no entanto, tive uma super-mãe — seja qual for o ponto de vista por que se olhe.

Verdade que nunca me lembro de ter sentido a falta de um elogio tão explícito, mas quando ouço alguém lamentar que nunca tenha recebido um pergunto-me (por vezes pergunto-lhe) quantos elogios fizeram aos pais. A resposta é quase sempre a mesma: zero!

Ora manda a lógica que quem primeiro sente a importância de um mimo seja o primeiro a aplicá-lo a quem ama. É, quanto a mim, isso que distingue amor de pagamento: no amor damos para receber, no pagamento damos se recebermos.

Não, não estou amargo, apenas palavroso. Desculpe. E olhe que "amargoso" existe e é até (junto, por exemplo, com "amargor" ou "amargo"), no sentido que a Miss queria atingir, bem melhor alternativa do que "amargura".

Um beijito doce, nada amargoso, 'tá bem?

Escrivaninha disse...

Ai, um beijito doce cai mesmo bem!
Mas o sentido era mesmo de amargura; amargosa era a zaragatoa, mas o post era amargurado mesmo.
Tudo se ensina e somos muito o fruto da forma como fomos criados. Ouvir elogiar os filhos dos outros num deserto de elogios para os filhos próprios, não é só uma falha: é também uma acusação.
Também é verdade que não devemos ficar presos a um certo determinismo da forma como fomos criados e nesse sentido eu até acho que me defini positiva por oposição a uma tristeza lamurienta constante e um sentimento de injustiça para com a vida...
Normalmente não sou assim. Mas estava (estou) num momento menos bom e apeteceu-me queixar.
E, afinal, tem as suas vantagens: o beijito adoçou.
E adoçou mesmo, obrigada.
Escriva