domingo, 27 de janeiro de 2013

O Sentimento de Si

A consciência é um tema que me fascina. A consciência histórica, a consciência pessoal, a consciência coletiva, a consciência da própria consciência... E a forma como estamos conscientes de nós próprios. A inteligência emocional e a memória emocional são outros temas subsidiários destas mesmas questões.
O título que roubei ao livro do Professor Damásio repousa na minha estante à espera  de dias com mais tempo e muita atenção desperta para raciocinar a cada frase, que o assunto é difícil...
Muito mais fácil é ver filmes ou episódios de séries sobre o assunto e é o que vou fazendo com uma série do AXN que me vem fascinando: Perception.
Daniel Pierce é um especialista em neurologia. Professor (brilhante) da Universidade é esquizofrénico e tem aguda consciência da sua doença que, no entanto, mantém "ativa" pois os seus sentidos apurados (mais agudos que o normal quando desequilibrados) fazem-no um excecional colaborador do FBI. E, claro, há um crimezito por episódio que nos mantém colado ao écran esperando que o nosso heroi nos desvende o vilão e as autoridades o afastem para sempre, dando-nos a paz tranquila com que vamos dormir, iludidos da justiça e previsibilidade deste nosso mundo.
Daniel Pierce é pois uma espécie de superheroi atormentado que tem ainda a vantagem de ser um excelente professor e conseguir esconder da maior parte do mundo o seu o desequilibrio, que é no fundo, também, a sua chancela de excepcionalidade.
Isto fascina-me. Coloca-me imensas questões. "Bebo" as aulas dele, com que quase sempre começa ou termina o episódio. Fico a refletir em tudo aquilo. (Claro que, para além da qualidade do argumento, devo acrescentar - para ser mesmo honesta - que o ar simultaneamente frágil e doutoral do ator exerce também um fascínio que não é só científico ou estudantil).
Mas até isso me faz refletir: o que é que nos atrai ou nos repulsa em cada coisa do nosso dia a dia. Porque escolhemos aquele filme, aquela roupa, aquela pessoa? O que é que determina as nossas orientações na vida? Os nossos gostos, os nossos amigos, os locais que frequentamos? E o que tem isso a ver com um "desenho" que nós ou outros fizeram para a nossa vida? É a educação, a personalidade, os genes, o ambiente socio-económico? O que nos torna quem somos?
No fundo tudo tem a ver com o que desejamos, o que queremos, o que valorizamos, o que priorizamos nas nossas vidas.
Num dos episódios de que mais gostei o Professor Daniel Pierce expunha: "A ambição estimula-nos a todos.(...). Freud quis convencer-nos que todos os ímpetos advém da libido. Lamento, Sigmund. O sucesso é neurologicamente determinado pela capacidade de cada um de se concentrar numa tarefa. A persistência é uma função de um sistema límbico ativo."
Então tudo tem a ver com aquilo que para cada um de nós é o sucesso e o que estamos dispostos a fazer por essa meta. Se para uns é ter muito dinheiro, para outros será o reconhecimento social, para outros os requisitos sociais de uma vida aceitável...para outros nada menos que o estrelato. Enfim.
Mas, no final do episódio, o Professor conclui: "Mas por mais motivados que sejamos por esse impulso neurológico natural a ambição não é algo de imutável.
Os sonhos mudam e mesmo que não sejamos capazes de escalar montanhas ainda temos hipóteses de poder movê-las."
Assim, o nosso sucesso talvez também possa ser medido pela nossa capacidade de adaptação, em cada momento, de reequacionar os nossos desejos (sonhos, ambições, metas, propósitos) à luz do que é possível de realizar. A justa medida entre a utopia que nos faz mover e a noção da realidade que nos permite não esmorecer e continuar.
E isto tem de ser medido em cada momento, constantemente, avaliando os sentimentos e consciência de nós mesmos e dos meios que nos rodeiam.
Que pena Daniel Pierce ser uma personagem de ficção...

Esclarecimento: o episódio estava gravado e isso permitiu-me citar as frases do Professor, não tenho uma capacidade assim tão grande de fixar "as deixas", mesmo as do fascinante Daniel Pierce.

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