Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Com os olhos rasos do meu país
Fogo Preso - Festas Gualterianas em Guimarães, capital europeia da cultura
Cansado de ser homem durante o dia inteiro chego à noite com os olhos rasos de água. Posso então deitar-me ao pé do teu retrato, entrar dentro de ti como um bosque.
É a hora de fazer milagres: posso ressuscitar os mortos e trazê-los a este quarto branco e despovoado, onde entro sempre pela primeira vez, para falarmos das grandes searas de trigo afogadas na luz do amanhecer.
Posso prometer uma viagem ao paraíso a quem se estender ao pé de mim, ou deixar uma lágrima nos meus olhos ser toda a nostalgia das areias.
1 comentário:
OS OLHOS RASOS DE ÁGUA
Cansado de ser homem durante o dia inteiro
chego à noite com os olhos rasos de água.
Posso então deitar-me ao pé do teu retrato,
entrar dentro de ti como um bosque.
É a hora de fazer milagres:
posso ressuscitar os mortos e trazê-los
a este quarto branco e despovoado,
onde entro sempre pela primeira vez,
para falarmos das grandes searas de trigo
afogadas na luz do amanhecer.
Posso prometer uma viagem ao paraíso
a quem se estender ao pé de mim,
ou deixar uma lágrima nos meus olhos
ser toda a nostalgia das areias.
Eugénio de Andrade
Beijito, Miss.
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