sábado, 14 de julho de 2012

É a que nos salva...Ainda funciona?

SÊ O MELHOR DO QUE QUER QUE SEJAS

Se não podes ser um pinheiro no topo do outeiro
... Sê um matagal, em baixo, no vale
Mas sê o mais denso da margem do ribeiro
Sê um arbusto, se não puderes ser a árvore mãe
E se arbusto for impossível, sê a relva do caminho
A fazer mais feliz quem lá vem.
Se não podes ser peixe grande, mas apenas peixe do rio
Sê o peixe mais vivo e fugidio.
Não podemos ser todos capitães, temos que ser tripulação
Algo nos espera, é certo.
Tarefas não faltam, o trabalho é que é pouco
Comecemos pelo que está mais perto.
Se não podes ser auto-estrada, sê um caminho
Se não podes ser o sol, sê uma estrela.
Se ganhas ou perdes, não é pelo pergaminho
Sê o melhor do que quer que sejas

DOUGLAS MALOCH, in BE THE BEST OF WHATEVER YOU ARE (The Scott Dowd Co., Chicago, 1926), tradução de CARLOS CAMPOS

Encontrei este poema no Facebook e lembrei-me que eu costumava dizer uma coisa semelhante aos meus alunos quando terminavam o 9º ano: "Sejam limpa-chaminés ou ministros da economia, sejam os melhores daquilo que fazem. Porque não pode haver boas reuniões à lareira, para tomar boas decisões (em economia, por exemplo) se as chaminés não estiverem bem limpas. Tudo se complementa e não há profissões mais ou menos importantes, pena é que os ordenados não reflitam isso. Por isso: escolham com o coração a vossa profissão e desempenhem-na sempre com o máximo de empenho e qualidade." Qualquer coisa assim...
Os exemplos eram de facto sempre estes: o limpa-chaminés e o ministro da economia; o que, só por si, poderia dar um interessante estudo sobre as razões (conscientes e inconscientes) desta escolha, os valores que lhe estão subjacentes, os conceitos de classe, profissão, etc.
De repente, tive um sobressalto: Eu este ano não lhes disse isto!
Depois, sosseguei-me: Eu este ano não tinha 9º ano. Não me "despedi" verdadeiramente deles.
Mas é que ficaram tantas sensações amargas este ano...
Não é a melhor altura para decidir isto, porque estou exausta e desesperada ainda com as tarefas burocráticas, mas creio que este terá sido o ano mais difícil que tive ao nível profissional.
Ontem chegou um mail do SPGL a anunciar todas "as pioras" que chegarão no ano que vem...que é já daqui a nada.
Senti que não tinha capacidade para as compreender e encaixar.
Não aguento muito mais.
Sinto que fui enganada e que uns ministros que têm cursos com 10 e 11 no seu currículo estão a tentar formatar este país à sua imagem. Que visão aterradora!
Não sei o que vou fazer. Queria voltar a ser a professora que dá atenção aos seus alunos: mas eles são tantos que eu verdadeiramente não os conheço, não os distingo...Está tudo tremendamente errado. A informática que deveria deixar-nos tempo para outras coisas veio atulhar os dias (e as noites, e os fins de semana)  de mails com instruções e tarefas que, se não matam árvores, destroem vocações.
Sinto-me sufocada.
Qualquer memória de uma desatenção para com um aluno me põe em lágrimas.
Tenho muito medo pelo ano que vem. E eu costumava ser uma pessoa de coragem.
Talvez o poema, aqui guardado, me ajude a não me esquecer que tudo isto teve um princípio muito bonito, que é preciso recordar, não perder de vista, revisitar...
E é sempre a Esperança.

2 comentários:

Ninguém.pt disse...


«Tomara poder desempenhar-me, sem hesitações nem ansiedades, d'este mandato subjectivo cuja execução por demorada ou imperfeita me tortura e dormir descansadamente, fosse onde fosse, plátano ou cedro que me cobrisse, levando n'alma como uma parcela do mundo, entre uma saudade e uma aspiração, a consciência de um dever cumprido.
[…]»

Fernando Pessoa


Não posso deixar de pensar que essa inquietude é meio caminho andado para que, no final, o saldo seja positivo para ambos os lados.

Desejo que seja e tenho a certeza de que no final sorrirá, Miss.

Beijito.

Escrivaninha disse...

Obrigada pela confiança.
Esperemos que tenha razão.
Beijito.