segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Lucidez da História

E a quem pensa que a História é coisa do passado e ao futuro pouco interessa, respondo que é nas vozes da História - nos que a estudam e procuram compreendê-la, nos que estudam as sociedades de uma forma extensiva e numa perspetiva de longa duração - que encontro esperança, segurança, firmeza e lucidez.
Desta vez foi na entrevista de José Manuel Tengarrinha, publicada na Visão da semana passada.
Diz ele:
"A sociedade que imaginávamos ou desejávamos, no «tempo das cerejas», é uma utopia. Mas não fez mal a ninguém ter essa utopia. Deu-nos pelo menos uma direção, um objetivo que nos encaminhou e amparou. Um dos problemas de hoje é a falta de ideias e de ideologias."
Mas logo contrapõe, afastando cenários catastróficos: "Eu não estou a aspirar aos «amanhãs que cantam», mas a verdade é que as sociedades não morrem. O aprofundamento da crise, que não é desejável, pode trazer alguma abertura para novas soluções, que não as até agora tentadas, infrutíferas e desastrosas. Se não for com um sistema, será com outro."
E isto é uma certeza. Isto é de uma lucidez extraordinária que nos faz falta. Sei que não alimenta quem tem fome, sei que não veste quem tem frio, nem cura as doenças a quem não tem dinheiro para comprar medicamentos, mas afasta decididamente a ideia de que o pesadelo em que vivemos é eterno e a situação insolúvel. E é dele, que já participou ativamente na política partidária, que recolho mais estas palavras, que para mim também são de esperança lúcida:
"Acho que da política dos partidos virá pouca coisa. Existem, porém, organizações cívicas e sociais, sindicais, movimentos de cidadãos que têm mostrado grande veemência, capacidade de protesto e intervenção que não se pode perder. Não quer dizer que conduzam a uma revolução (...) mas são portadores de uma esperança de futuro."
E os senhores ministros a minimizarem as ciências sociais e humanas! Só elas nos podem primeiro acalmar e depois salvar por nos deixarem ver caminhos. 

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